Timorenses celebram renúncia de Alkatiri

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Publicado segunda-feira, 26 de junho de 2006 as 08:16, por: CdB

O primeiro-ministro do Timor Leste, Mari Alkatiri, renunciou nesta segunda-feira, dizendo que assumiria a responsabilidade pela crise política que atinge a pequena nação da Ásia há mais de dois meses.

Não foi informado, ainda, quem o substituiria no cargo, mas as notícias de sua saída foram saudadas por milhares de pessoas na capital.

A multidão gritou e bateu tambores para comemorar a renúncia de Alkatiri. Um comboio de cerca de 200 ônibus e peruas passou pelas ruas da capital Dili, tocando buzinas.

Alkatiri disse que deixa o cargo para evitar a renúncia do popular presidente do país, Xanana Gusmão.

– Estou disposto a renunciar da minha posição de primeiro-ministro do governo de RDTL (Timor Leste) para evitar a renúncia de Sua Excelência, o presidente da República – disse Alkatiri em coletiva de imprensa.

Ele disse que tomou a decisão depois de ter “refletido profundamente sobre a atual situação no país… assumindo minha própria parte da responsabilidade pela crise que afeta nosso país”.
Alkatiri recusou-se a responder a perguntas.

O primeiro-ministro foi apontado como responsável pela violência de maio, que levou as Forças Armadas a combaterem saques, vandalismo e brigas em Dili. A onda de violência só terminou com a chegada, no mês passado, de uma força de paz liderada pela Austrália, que desarmou a polícia e o Exército e assumiu a responsabilidade pela segurança na ilha.

Milhares de pessoas saíram às ruas para pedir a renúncia de Alkatiri. Nos últimos seis dias, os protestos cresceram, depois da revelação na imprensa australiana de documentos que o ligavam a um plano de armar uma milícia civil.

RAMOS-HORTA

Uma das figuras políticas mais conhecidas do país, o Nobel da Paz José Ramos-Horta, está sendo cogitado como possível substituto de Alkatiri, caso Gusmão peça para o parlamento formar um governo de união nacional para governar o país até a eleição, marcada para maio de 2007.

– Eu não quero o cargo, mas aceitaria se fosse convencido por todos os partidos relevantes.
Há muitas pessoas extremamente capazes e competentes dentro do Fretilin que poderiam ocupar o cargo de primeiro-ministro – disse Ramos-Horta.

Nem Ramos-Horta, que renunciou dos cargos de ministro da Defesa e do Exterior no domingo, nem Gusmão, são do partido do governo, o Fretilin.

No Ocidente, o partido é visto como um grupo de orientação socialista, em legado de anos de exílio de seus líderes em Moçambique ou Angola durante a longa luta pela independência do Timor.

Outra possível concorrente para premiê é Ana Pessoa, ex-mulher de Ramos-Horta, também do Fretilin. Arsenio Bano, ministro do Trabalho e da Solidariedade, também é visto como opção.

O desemprego no Timor Leste está em torno de 70 %. O único produto de exportação do país é o café, mas a nação tem potencial com reservas de gás e petróleo no mar que a separa da Austrália, e já recebeu centenas de milhões de dólares em direitos de exploração.