Tucanos paulistas fazem ‘farra com dinheiro público’, afirmam delegados

Arquivado em:
Publicado Sábado, 06 de Fevereiro de 2016 às 15:59, por: CdB

Ao todo, três investigados pela Operação Alba Branca ligam os tucanos Fernando Capez, presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, e Luiz Roberto dos Santos, ex-chefe de gabinete da Casa Civil do governo Geraldo Alckmin (PSDB), conhecido como Moita, à “farra com dinheiro público”

 
Por Redação - de São Paulo
  Para oos delegados da Operação Alba Branca, o esquema criminoso mantido por uma falsa cooperativa de produtores rurais, que atuava na venda de insumos para a merenda escolar no governo tucano de Geraldo Alckmin, do Estado de São Paulo, e em prefeituras ligadas politicamente ao PSDB se transformou em “uma verdadeira farra com o dinheiro público”. A descrição consta do pedido de prisão de sete pessoas ligadas à Cooperativa Agrícola Familiar (Coaf), de Bebedouro, assinado pelos delegados da Polícia Civil Mario José Gonçalves, Paulo Roberto Montelli e João Vitor Silvério.
fernando-capez.jpg
Fernando Capez, presidente da Alesp, teve seu nome citado na investigação contra tucanos no Estado de São Paulo
O documento, que cita o presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), Fernando Capez (PSDB) como um dos chefões do crime, foi a base para deflagração da Alba Branca, no dia 19 de janeiro, que desmontou um esquema de corrupção e fraudes em contratos do governo do Estado e de 22 prefeituras. O esquema, segundo a polícia, se aproveitou da legislação federal, que estipula e prevê incentivos para compra de até 30% de produtos da merenda escolar de pequenos produtores rurais. O documento mostra que o esquema de propinas, chamadas pelos investigados de “comissões”, girava em torno dos 10% a 20% em contratos com governos do Estado e prefeituras para fornecimento de produtos como suco de laranja e arroz, destinados à alimentação dos alunos da rede pública. A Coaf participava das licitações públicas simulando disputa com outras cooperativas ligadas ao grupo criminoso. Combinavam preços, geralmente superfaturados – um litro de suco de laranja, que para a entidade custava R$ 3,70, era vendido a R$ 6,80. Para garantir os contratos com o governo e prefeituras, era feito a certo de “comissões”. “Tais valores, via de regra, são entregues em dinheiro ao representante do órgão público participante do esquema, no caso, alguém que funcionava como um ‘lobista’”, informa relatório da Alba Branca.

Tucanos implicados

Após horas de escutas telefônicas e nos depoimentos de seis funcionários da Coaf, até agora, incluindo o presidente da entidade, Cássio Chebabi, os delegados puderam detalhar o modus operandi da quadrilha, desde as entregas de pacotes de dinheiro em espécie até depósitos em contas e acertos em postos de combustível às margens de rodovias. Num dos trechos do documento, a Polícia Civil aponta que foram identificados a “entrega de valores, sendo uma no valor de R$ 130 mil, uma segunda de R$ 80 mil e, uma terceira, que iria ser efetuada no valor de R$ 95 mil”. A operação policial considera “importante prova material da efetiva existência dessa organização criminosa”. A polícia apreendeu R$ 95,6 mil reais em notas de R$ 50 e R$ 100, no dia 9 de janeiro, na cidade de Taiuva – vizinha a Bebedouro, sede da Coaf. O dinheiro estava com Cesar Bertholino, funcionário do setor financeiro da Coaf, que em depoimento admitiu fazer entrega de propinas. No seu depoimento, no dia 19, ele afirmou que “os R$ 95,6 mil apreendidos na rodovia” “seriam entregues para Marcel, fruto da última parcela do contrato com a Secretaria Estadual de Educação”. O dinheiro seria a propina paga a Marcel Ferreira Julio, filho do ex-deputado Leonel Julio, que atuaria como lobista junto aos tucanos que faziam a ligação entre a Coaf e os agentes públicos do governo do Estado e das prefeituras. Ele está foragido. “Junto com o dinheiro, os policiais ainda localizaram uma anotação com o montante transportado, como ainda divisão de porcentagem e ainda a inscrição “pai” com a anotação de valores na frente”, informa o relatório. A Alba Branca acredita que “seria referente ao montante que seria destinado ao estranho personagem Leonel Julio, pai do investigado Marcel”. Nos depoimentos, os funcionários e o dirigente da Coaf, ligados aos tucanos, disseram que Marcel ficava com 10% de comissões nos contratos fechados com o poder público. Seu pai teria uma cota de 2% dessa comissão.

Foragido

Bertholino detalhou como foi a tentativa de entrega frustrada pela polícia. “Naquela ocasião foram sacos da conta da Coaf R$ 181 mil”, diz ele apontando os nomes dos funcionários responsáveis pela retirada no banco. “R$ 1 mil se destinavam a cobrir suas despesas de viagem, já que visitaria prefeituras também (Mairiporã e Barueri), R$ 60 mil foram repassados para o vendedor Carlos Luciano que os repassaria para Joaquim, de Campinas, que havia feito vendas para a Coaf e R$ 120 mil se destinavam a Marcel, dois quais a pedido dele segurou parte consigo, que depositaria na conta da esposa dele, onde havia cheques a cobrir e lhe levaria pessoalmente os R$ 95,6 mil apreendidos.” Depois da apreensão da última parte da propina pela polícia, Marcel ligou para o declarante (Bertholino) e para o vendedor Adriano, pressionados para lhe entregasse o dinheiro que julgava devido, pois ele alegava que apreensão não era problema dele. A entrega, segundo o funcionário da Coaf, foi efetivada. “Em razão da pressão de Marcel, posteriormente o declarante e Adriano com carro alugado da Localiza, levaram-lhe os aludidos R$ 95,6 mil, entregues numa padaria de São Paulo.” O suspeito Marcel Julio encontra-se foragido. Ele foi o único dos sete alvos da Alba Branca a não ser localizado no dia 19. Julio foi flagrado nas escutas telefônicas feitas pela operação com autorização judicial e teve seu nome citado. Ao todo, três investigados pela Operação Alba Branca acabaram ligando o presidente da Alesp, o líder dos tucanos Fernando Capez, e o ex-chefe de gabinete da Casa Civil do governo Geraldo Alckmin (PSDB) Luiz Roberto dos Santos, conhecido como Moita, como integrantes da quadrilha que armou a “farra com dinheiro público” na compra de produtos agrícolas destinados à merenda escolar da rede estadual de ensino paulista.
Tags:
Edição digital

 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo