Temer e tucanos não se entendem na divisão do butim golpista

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Publicado Quarta, 20 de Abril de 2016 às 11:40, por: CdB

Aécio Neves, por sua vez, acredita que o processo de impeachment contra Dilma é fatura liquidada e gostaria de ver novas eleições convocadas para eleger uma nova Presidência da República

Por Redação - de Brasília e São Paulo
Uma vez consolidado o golpe de Estado contra o mandato da presidenta Dilma Rousseff, na Câmara dos Deputados, em sessão que se transformou em motivo de risos em alguns momentos, mas de protesto e repúdio ao redor do mundo, a formação de um possível governo do presidente do PMDB, Michel Temer, começa a gerar tensão entre seus aliados. Os senadores tucanos José Serra e Aécio Neves (MG), que disputam a hegemonia da ala direita na próxima administração, uma vez derrubado — de fato — o governo petista, pretendem assumir a condução econômica do país, no dia seguinte. — Não participaremos em papel periférico — assinalaram os parlamentares tucanos, em uníssono, a jornalistas.
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Serra diz que aceita, de bom grado, o Ministério da Saúde em uma eventual gestão de Temer
Ambos estão de acordo com o processo de impedimento, em trâmite no Senado, contra a presidenta Dilma, mas já discordam da forma como participar de uma eventual gestão, com Temer no comando. Serra, aliado de primeira hora do golpe contra a democracia, diz que aceita o Ministério da Saúde, onde já esteve durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. Aécio Neves, por sua vez, acredita que o processo de impeachment contra Dilma é fatura liquidada e gostaria de ver novas eleições convocadas para eleger uma nova Presidência da República. Aécio reclama da falta de legitimidade do mandato de Temer. Em recente almoço com o economista Marcos Lisboa, presidente do Insper e ex-integrante do governo FHC, também cotado para Fazenda, testemunhou a declaração de Neves por eleições diretas, o quanto antes. Segundo afirmou, apenas um governo "respaldado pelo voto" teria força para aprovar as medidas drásticas que consertariam a economia do país. No falso vazamento de um possível discurso de posse, Temer promete “unificar o país”, embora não saiba, ao certo, como acontecerá um fenômeno desses, quando nem a direita, que o apoia, decide ao certo que caminho tomar, após a quebra do regime constitucional.

Insegurança econômica

Diante da realidade, na qual deixa de existir segurança jurídica no país, diante da cassação de um governo democraticamente eleito e sua substituição por outro, de facto, muitos investidores começam a recuar e o resultado pode ser observado na reação do mercado cambial, nesta quarta-feira. O dólar avançava durante a manhã empurrado por novas intervenções do Banco Central no mercado de câmbio com leilão de swap reverso, após um dia de frágil neutralidade. Como pano de fundo estão as incertezas com relação aos nomes da equipe econômica de um eventual governo de Michel Temer, caso haja o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Com os contratos em risco, em caso de um processo de impeachment contra uma presidenta que não cometeu crime de qualquer espécie, pesam ainda as preocupações do lado fiscal, com a mudança de cálculo das dívidas dos Estados com a União. Atualmente, oito Estados conseguiram decisão favorável no Supremo Tribunal Federal (STF) para alterar a metodologia de cálculo no pagamento das dívidas. O Supremo marcou para o próximo dia 27 o julgamento desses casos. Uma vez aprovada a alteração, o caixa da União sofrerá um impacto superior a R$ 300 bilhões, segundo adverte o BC.

Fim da trégua

Encerrado o capítulo do impeachment da presidente Dilma Rousseff, na Câmara, o presidente da Casa, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) entra, definitivamente, na alça de mira dos colegas. Com o feriado desta quinta-feira, o colegiado voltará a se reunir na terça-feira da próxima semana. O relator do processo contra Cunha, deputado Marcos Rogério (DEM-RO), no entanto, poderá decidir, nas próximas horas, se inclui ou não a delação premiada do empresário Ricardo Pernambuco Júnior, executivo da Carioca Engenharia, no âmbito da operação Lava Jato, já homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Pernambuco Júnior acusa Eduardo Cunha de receber R$ 56 milhões, em propina desviada de projetos da Petrobras. O deputado Marcos Rogério aguardava, nesta manhã, a entrega de novos documentos da Procuradoria-Geral da República (PGR) e do Supremo Tribunal Federal (STF) para decidir sobre a inclusão, pedida pelo deputado Subtenente Gonzaga (PDT-MG), suplente no conselho. Funcionários do gabinete do relator explicaram que algumas informações solicitadas pelo parlamentar já estão em seu poder, mas neste rol ainda não estaria incluída a declaração de Pernambuco Júnior. Segundo o delator, a propina foi paga a Cunha em 36 prestações até perfazer o total de R$ 56 milhões, parte deles em recursos do Fundo de Investimento do FGTS. Parte dos deputados comprometidos com o golpe de Estado, em curso, já cogitam uma espécie de ‘anistia’ a Cunha, por sua performance na tentativa de derrubar a presidenta da República.
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