Novos fatos ligam doleiro a doação de propinas para campanhas políticas

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Publicado Domingo, 13 de Abril de 2014 às 11:10, por: CdB
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Paulo Costa seria elo de ligação entre Cachoeira e o doleiro Yousseff
A Operação Lava-Jato, da Polícia Federal (PF), que prendeu recentemente o doleiro Alberto Youssef e levou o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara a abrir um processo contra o deputado André Vargas (PT-PR), resvalou em uma das ramificações do bicheiro Carlinhos Cachoeira. Parceiro oculto na Delta Construções e principal informante da revista semanal de ultradireira Veja, Cachoeira e o engenheiro Fernando Cavendish, dono da construtora Delta, teriam ligações clandestinas com o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, preso junto com Youssef na operação da PF. Paulo Costa, indicado ao cargo pela legenda do Partido Popular (PP), do deputado Jair Bolsonaro (RJ), integra a base aliada do governo Dilma Rousseff mas, na realidade, tem laços indissolúveis com a extrema direita brasileira. Governos tucanos de Geraldo Alckmin e José Serra também estariam sob suspeita de integrar um esquema de financiamento de campanha a partir de uma rede de corrupção integrada por Cachoeira e Cavendish; além da multinacional francesa Alstom, contratada para a construção do Metrô paulista. Estas e outras ligações entre os esquemas de corrupção que carreram bilhões de reais para as campanhas dos setores conservadores em partidos como o PP, o PSDB e o DEM estão no centro do alvo pretendido pela Comissão Parlamentar de Investigação (CPI) em debate no Senado. A tese de que a malversação de recursos públicos extravasa os limites da Petrobras, com as novas prisões efetuadas pela PF nas últimas 72 horas, ganha força após as descobertas. Serviço malfeito Yousseff, segundo a PF, é dono de uma empresa do esquema de lavagem de dinheiro que manteve negócios com a Delta Construções, de Fernando Cavendish. Esta empresa planejava fazer prospecção de petróleo na Bacia de Santos por meio de uma offshore, também de propriedade de Youssef, sediada em Hong Kong, conforme apuraram os investigadores. A Malga Engenharia, constituída em 26 de dezembro de 2012, teve sua primeira sede em Arujá, na Região Metropolitana de São Paulo, sendo transferida, posteriormente, para a periferia da capital paulista. O capital inicial da empresa era de R$ 900 mil e tinha como sócios Adriano Roberto e Carla Zorron Lopes, com divisão de cotas iguais. O principal objetivo da companhia, de acordo com documentos registrados na Junta Comercial de São Paulo, era a prestação de “serviços de engenharia, obras de terraplenagem, locação de automóveis sem condutor e aluguel de máquinas e equipamentos agrícolas sem operador”. A Malga, em 25 de setembro de 2012, fez uma alteração contratual na qual saiu Carla Zarron e entrou a GFD Investimentos Ltda, cujo endereço coincide com o de Alberto Youssef. A GFD passou a figurar na sociedade com participação de R$ 891 mil, enquanto Adriano Roberto ficou com apenas R$ 9 mil. O representante da GFD é Carlos Alberto Pereira da Costa, tido pela Polícia Federal como empregado do doleiro. Subcontratada pela Delta Construções, a Malga Engenharia atuaria nas obras de recuperação da BR-163. A construtora de Cavendish obteve um contrato do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes Terrestres (Dnit) para obras no trecho de 63 quilômetros entre os municípios de Marechal Cândido Rondon e Guaíra, no Paraná. O valor dos serviços foi de R$ 114,6 milhões, que contemplavam a recuperação da pista, de 44,95 quilômetros de acostamento, e 12,6 quilômetros de terceira faixa. Ao longo da CPI do Cachoeira, descobriu-se que a Delta Construções servia para escoar recursos que, segundo as investigações, eram utilizados no pagamentos de propinas e desvios de dinheiro público. A partir da Delta, a PF encontrou uma série de empresas fantasmas, que tinham como principal função receber e repassar recursos para agentes públicos. A Delta foi considerada inidônea pela Controladoria Geral da União e impedida de firmar contratos com o governo federal. Cavendish teve seus bens congelados, por ordem da Justiça, mas ainda vive em um confortável apartamento no Leblon, Zona Sul do Rio de Janeiro. Entre estas companhias fantasmas, segundo relatório da PF, vazado para a imprensa, estava a RCI Software, que também aparece no cruzamento de dados feito pela PF na Operação Lava-Jato. Outras duas firmas, a JSM Engenharia e Terraplenagem e a Rock Star Marketing receberam, juntas, R$ 49,1 milhões do esquema de Cavendish. Elas teriam repassado R$ 1,5 milhão à MO Consultoria Comercial e Laudos Estatísticos, ligada a Youssef. A PF também descobriu que a MO Consultoria tinha como sócio formal o mesmo proprietário da RCI Software. Pela conta da MO, conforme a PF, passaram R$ 90 milhões, de 2009 a 2013. O “Correio Braziliense” informou sexta-feira que que a Rock Star repassou, em junho e julho de 2010, ano eleitoral, R$ 1,2 milhão para a MO Consultoria. Em 2007, a empresa recebeu R$ 2,3 milhões da Delta. Em 2008, foram R$ 7 milhões. Repasses milionários A PF apreendeu, na casa de Paulo Costa, na semana passada, uma tabela que demonstra como ele teria intermediado o contato entre grandes empreiteiras e políticos ligados à extrema direita. A tabela, dividida em três colunas onde constam as empresas, executivos dessas companhias e a “solução”, segundo a PF, indicaria repasses milionários de um suposto esquema que abastecia candidatos e financiava campanhas políticas. Costa teria integrado um esquema que repassou cerca de R$ 10 bilhões às campanhas políticas. Na tabela, na coluna da “solução”, aparecem frases como: “Está disposto a colaborar”; “Já está colaborando, mas vai intensificar para campanha a pedido de PR”; e, por último, “Já teve conversa com candidato e vai colaborar a pedido do PR”. A sigla PR seria uma referência ao próprio ex-diretor, segundo os investigadores. As investigações da Operação Lava-Jato chegam, entre outras suspeitas de crime, à transferência de recursos de empresas que tinham contratos com a Petrobras para uma conta que, de acordo com a PF, era usada pelo esquema para repassar propina a servidores públicos e políticos ligados ao esquema de corrupção. No documento encontrado pelos investigadores também foi identificada uma planilha de valores e que na rubrica “entrada” consta a palavra “primo”, que, segundo os policiais federais, é o apelido do doleiro Alberto Youssef, apontado como um dos coordenadores da quadrilha.
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