Moraes se reúne com PF três dias antes da prisão de Antonio Palocci

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Publicado Terça, 27 de Setembro de 2016 às 11:17, por: CdB

Moraes disse a eleitores que ficassem “tranquilos que essa semana tem mais”. Assim, deixou escapar a informação que, no dia seguinte, haveria mais prisões. “Quando vocês virem vão se lembrar de mim”, antecipou

 
Por Redação - de Brasília
  Integrante do grupo no poder, com a deposição da presidenta Dilma Rousseff, Alexandre de Moraes está sob suspeita. Na pasta da Justiça, Moraes reuniu-se com a cúpula da Polícia Federal em São Paulo três dias antes da prisão do ex-ministro Antonio Palocci. A ação policial foi antecipada por ele no domingo, durante campanha do candidato tucano Duarte Nogueira, em Ribeirão Preto (SP). Palocci foi prefeito da cidade e Moraes apoia a oposição ao grupo político do ex-ministro.
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Alexandre Moraes, que ocupa a pasta da Justiça, será chamado a depor no Congresso
Moraes disse a eleitores que ficassem “tranquilos que essa semana tem mais”. Assim, deixou escapar a informação que, no dia seguinte, haveria mais prisões. “Quando vocês virem vão se lembrar de mim”, antecipou. A afirmativa, no entanto, levanta questionamentos sobre a obtenção, pelo governo Temer, de informações privilegiadas da PF. Com a agenda oficial confirmada, Moraes revela sua presença no núcleo da PF que comandaria a prisão de Palocci, na manhã seguinte ao seu comentário. O membro da equipe de Temer tem trânsito no meio policial desde que ocupou o cargo de secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo. Sua influência junto às forças de repressão, nos últimos anos, tem sido notória. O setor de Comunicação da PF paulista confirmou, nesta terça-feira, que Moraes esteve reunido com Disney Rosseti, chefe da PF no Estado. Tratava-se de uma "reunião de trabalho”. A reunião foi noticiada na intranet da corporação às 17h57 sob o título "SR/SP recebe ministro da Justiça para reunião de trabalho".

Silêncio da máfia

Os documentos que comprovam o encontro seguiram para o Congresso. Tanto na Câmara quanto no Senado, nas últimas 24 horas, Moraes passou a responder a uma investigação. Também foi alvo de representações na Procuradoria Geral da República e na Comissão de Ética da Presidência da República. Segundo as denúncias, houve "violação de sigilo funcional" das investigações e Moraes perdeu qualquer condição de permanecer no cargo. Na manhã desta segunda-feira, a PF deflagrou a 35ª fase da Lava Jato, a Operação Omertà. Trata-se de uma referência ao código de silêncio que rege as famílias dos mafiosos. Os policiais apuram a relação entre o Grupo Odebrechet e o ex-ministro Palocci. Logo após a notícia do vazamento, a PF divulgou nota à imprensa. Alegou manter “o mesmo padrão de compartimentação e cuidado com a informação que caracterizaram as quase 500 operações deflagradas este ano”. Junto à corporação, no entanto, as declarações de Moraes significaram “uma grande trapalhada”. A afirmativa é de um delegado federal, em condição de anonimato, â reportagem do Correio do Brasil. O Ministério da Justiça, por sua vez, também procura desconversar. Afirmou, em nota, que a Lava Jato não foi assunto da reunião. Trataram, pela ordem, de assuntos como: 1) tráfico de drogas e armas, inclusive trabalho conjunto com a Polícia Civil e Militar; 2) fiscalização de empresas de valores (em virtude do aumento de roubos com explosivos e armamento pesado); 3) aperfeiçoamento da legislação sobre guarda de armas em estabelecimentos bancários, em virtude do grande número de roubos de armamento das empresas de segurança privada.

‘Esquece isso’

Na manhã desta terça-feira, a Secretaria de Imprensa informou que Michel Temer conversou, por telefone, com seu representante na Justiça. Ouviu de Alexandre de Moraes as explicações sobre o vazamento de informações referentes à Operação Lava Jato. Indicado para o cargo pela cúpula do PSDB — principal avalista do governo instalado após o golpe de Estado —, Temer engoliu em seco. Segundo a assessoria do presidente de facto, após a conversa entre os dois, Moraes foi instado a seguir adiante: “Esquece isso”, teria-lhe dito o mandatário, segundo confidenciou uma fonte ao CdB. A senadora Gleise Hoffmann (PT-PR), porém, não quer permitir que o episódio seja superado. Em sua representação, na Casa, lembra que, no domingo, Moraes teve um encontro com representantes do Movimento Brasil Livre (MBL). A reunião, a céu aberto, ocorreu em Ribeirão Preto, administrada por Palocci em dois mandatos. Àqueles que o rodeavam, Moraes informou, com um sorriso largo, que haveria uma nova fase da Lava Jato. Dito e feito. Na segunda-feira, a PF deflagrou a 35ª fase da operação e prendeu o ex-ministro da Casa Civil e da Fazenda Antonio Palocci. Sem provas, mas com a convicção que o integrante do PT teria favorecido a Odebrecht, os policiais o conduziram à prisão, no Paraná. Uma vez divulgadas, as declarações de Moraes seguem repercutindo, negativamente, para o governo. Parlamentares do campo progressista entenderam que o ocupante da pasta antecipou a operação ao cumprir uma agenda político-partidária, no fim de semana. Aos seus eleitores, teria passado a mensagem de que o governo interfere nas investigações da forma como bem entende. Segundo o Palácio do Planalto, no telefonema, Alexandre de Moraes se desculpou com Temer, ao afirmar que não teve a intenção de antecipar a fase seguinte da Lava Jato. Queria apenas reforçar aos integrantes do MBL que a operação seguirá adiante com as investigações.

Equipe volátil

Moraes, no telefonema, confirmou presença no jantar oferecido por Temer no Palácio da Alvorada. O presidente de facto ocupa, também, a residência de outros presidentes depostos, como Jango Goulart e Dilma Rousseff. A ocasião reunirá ministros e líderes de partidos que compõem a base aliada na Câmara dos Deputados. Desde a eclosão do golpe, em 13 de Maio, com o afastamento de Dilma, três ministros de Temer precisaram se afastar da equipe ministerial. Todos por envolvimento em suspeitas de crimes investigados pela Lava Jato. O primeiro foi o senador Romero Jucá (PMDB-RR). Ele é investigado por suspeita de tentar acabar com a Operação policial. Vazou para a imprensa uma conversa dele sobre um “pacto” contra a Lava Jato. Em seguida, foi a vez do ministro da Transparência deixar o cargo. Fabiano Silveira foi flagrado numa conversa na qual criticava a condução das investigações da Lava Jato pelo Ministério Público Federal. Outro terceiro a cair foi Henrique Alves (PMDB-RN), ex-titular do Turismo. O peemedebista saiu depois que delegados federais descobriram uma conta secreta dele na Suíça.
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