A Marinha brasileira retomou efetivamente, nesta segunda-feira, o projeto de construção do primeiro submarino nuclear do país. Entrou em vigor, pela manhã, a Coordenadoria Geral do Programa de Desenvolvimento do Submarino Nuclear (Cogesn), com sede nas instalações da Marinha, no Rio, ocupada pelo ex-comandante do Estado Maior da Armada, almirante-de-esquadra José Alberto Accioly Fragelli. A construção do vaso de guerra está localizada no Arsenal do Rio, de onde o último dos cinco submarinos da frota brasileira saiu em 2005, com o projeto de um casco capaz de receber o reator nuclear.
O primeiro submarino movido a energia nuclear, segundo previsão do presidente da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro da Silva, almirante reformado e mentor do programa nuclear brasileiro, deverá ser lançado ao mar em 2.020. Na opinião do militar, o país necessita, pela extensão de sua costa e a descoberta de imensas jazidas de petróleo, de pelo menos seis submarinos nucleares.
– Pelo tamanho da nossa costa, eu diria que seria necessário pelo menos seis nucleares. Defesa é uma coisa que é preciso ter para não usar – afirmou.
Othon lembrou que, em 1978, recebeu a incumbência de iniciar os primeiros estudos para um submarino nuclear brasileiro, o que resultou depois no domínio quase completo do ciclo do urânio que o país detém hoje. Ele só lamenta que o projeto tenha sofrido uma descontinuidade, com o corte quase total de verbas em 1994, só retomado anos depois, na gestão do atual governo.
– O presidente Lula tem demonstrado uma visão de estadista. Um metalúrgico estadista. Ele viu que (o programa nuclear) era necessário e virou programa de governo – disse.
Segundo Othon, o mais caro e difícil é construir o primeiro submarino, com os custos se reduzindo na construção de outras embarcações. Enquanto um convencional fica em torno de US$ 600 milhões, um nuclear atinge US$ 1,5 bilhão.
– Todo produto custa mais caro no início. O segundo submarino vai custar entre 10% e 15% mais barato e assim por diante, até um limite – disse.
Othon é engenheiro nuclear pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT). Foi gerente do Programa de Desenvolvimento das Ultracentrífugas Brasileiras para Enriquecimento de Urânio e do Programa de Desenvolvimento da Propulsão Nuclear da Marinha do Brasil.
Ele defende os gastos em pesquisa na área de energia nuclear como investimento em fonte de geração de empregos e de caráter estratégico para o país:
– Quanto mais você sabe, menos você paga. Quando você não sabe nada, paga tudo. A ignorância custa muito caro – refletiu.
Apenas 5 países no mundo têm submarinos nucleares: Estados Unidos, Rússia, China, Japão e França.