Relatório sobre educação alemã mostra que crianças são melhor atendidas nas primeiras séries escolares, mas há déficit no Ensino Médio e nas universidades
Por Redação, com DW - de Berlim:
"Poderia ser melhor" foi a conclusão. A Alemanha se deu uma nota média em seu sexto boletim anual sobre a educação no país, chamado Educação na Alemanha 2016.
Começando com as boas notícias, a ministra da Educação, Johanna Wanka, destacou a situação global. No geral, alemães têm recebido uma educação melhor. Os resultados melhoraram e mostram que o número de jovens que não terminaram o ensino secundário caiu de 8% em 2006 para 5,8% em 2014.
O investimento em educação também cresceu. O valor anual aplicado para cada estudante secundarista subiu de 4,9 mil euros em 2005 para 6,5 mil euros em 2013. Já o número de pessoas empregadas em creches e escolas primárias alcançou o recorde de 515 mil em 2015.
Nas declarações que acompanharam o estudo, a ministra soou otimista. "O atual relatório sobre a educação mostra o interesse firme das pessoas em mais e melhor educação. Isso será a base, no futuro, para uma vida profissional bem-sucedida, seja numa fábrica, seja num escritório", analisou.
Cenário pela metade
Mas essa não é toda a história. Apesar de o relatório também mostrar números positivos para as pessoas com raízes no exterior (que têm pai ou mãe estrangeira), a melhora foi mais lenta para elas. Nesse grupo, mais da metade dos que concluíram o ensino secundário (56%) conquistou apenas o diploma chamado Hauptschulabschluss, que não permite o ingresso no ensino superior. O índice é 20 pontos percentuais maior que há dez anos.
Ainda que a diferença em relação aos filhos de pais alemães tenha diminuído na pré-escola e no primário, o número de crianças abaixo dos 3 anos de idade no jardim de infância dobrou desde 2009, ainda há o que o documento chamou de fortes desigualdades nos níveis mais altos do sistema educacional.
– Embora os pais imigrantes tenham uma aspiração ambiciosa para a educação de seus filhos, um número acima da média dessas crianças frequentam escolas que oferecem, no máximo, a possibilidade de concluir o Ensino Médio (sem acesso ao Ensino Superior). Elas estão especialmente subrepresentadas nos ginásios (o Ensino Médio de nível mais alto, com perfil acadêmico) – indica a pesquisa. Não é surpresa, portanto, que isso gere mais subrepresentação nas faculdades e universidades.
– O importante é a percepção de que as diferenças educacionais aparentemente relacionadas à migração estão mais provavelmente ligadas à situação sócio-econômica – destacou a secretária de Educação do estado de Bremen, Claudia Bogedan, que participou da apresentação dos dados.
Trabalho por fazer
Tahir Della, porta-voz da Iniciativa para Pessoas Negras na Alemanha (ISM, na sigla em alemão), elogiou o esforço e as boas intenções do governo. "Da forma como as estatísticas estão apresentadas, elas podem ser intepretadas positivamente", avaliou. Mas ele questiona se os dados não escondem o racismo cotidiano no próprio sistema. Ele alerta que muitas crianças negras ou não-brancas podem ficar fora da análise por terem pai e mãe alemães.
Ele cita como exemplo dois de seus filhos adolescentes que, segundo ele, não foram admitidos em escolas que abrem mais chances acadêmicas, apesar de terem boas notas. "Eles basicamente foram impedidos de estudar em escolas melhores", disse, em entrevista à DW. Della ainda criticou o currículo, no qual questões sobre negros e história, em especial o colonialismo alemão, são raramente estudados, quando são. "Em alguns casos, ainda se usam livros de 40 anos atrás", afirma.
O ativista também acredita que as escolas tendem a lidar com discriminação racial como casos isolados, em vez de vê-los como um problema estrutural. "Isso significa que as crianças são frequentemente deixadas sozinhas com o preconceito. Na minha visão, há muito pouco foco nas escolas em criar uma sociedade livre de discriminação, e não apenas em relação à raça", lamenta.