Evo homenageia Francisco com foice, martelo e cruz

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Publicado quinta-feira, 9 de julho de 2015 as 14:00, por: CdB
Além do crucifixo, Morales entregou um exemplar do "Livro do Mar", editado pelo governo da Bolívia
Além do crucifixo, Morales entregou um exemplar do “Livro do Mar”, editado pelo governo da Bolívia

 

O presidente da Bolívia, Evo Morales, presenteou o Papa Francisco com um peculiar crucifixo em madeira com Cristo sobre uma foice e um martelo, símbolos do comunismo, durante uma reunião que os dois mantiveram na noite de quarta-feira em La Paz.

Morales se define como um socialista e representa uma corrente regional conhecida como “Socialismo do Século XXI”, que também professam os governos de Venezuela e Equador.

Além do crucifixo, Morales entregou um exemplar do “Livro do Mar”, editado pelo governo da Bolívia, que traz um resumo histórico da centenária demanda do país andino contra o Chile, levada à Corte Internacional de Haia.

Morales fez referência ao tema marítimo em seu discurso de boas-vindas ao Papa, no Aeroporto de El Alto, quando lhe deu uma “chuspa”, uma pequena bolsa de tecido andina.

No encontro na Casa de Governo, Morales também entregou a Francisco o Condor dos Andes, a máxima condecoração do país.

O Papa presenteou Morales com uma reprodução do mosaico “Salus Populi Romani”, imagem da virgem com um menino nos braços, que desde 1611 ocupa a magnífica capela Paulina da Basílica Santa Maria Maggiore.

Papa elogia reformas

O papa Francisco chegou à Bolívia nesta quarta-feira e elogiou o governo do presidente Evo Morales, o primeiro líder indígena do país cujo relacionamento com a Igreja Católica começou a ganhar novas formas sob a gestão do pontífice argentino.

Morales nacionalizou indústrias importantes, como petróleo e gás, para financiar programas sociais que diminuíram a pobreza no país andino.

Francisco, o primeiro papa da América Latina, chegou do Equador no aeroporto de La Paz em El Alto, a mais de 4.000 metros acima do nível do mar, o aeroporto internacional de altitude mais elevada do mundo.

O papa, que perdeu parte de um pulmão devido a uma infecção quando era jovem, ficará apenas cerca de quatro horas em La Paz, sede do governo, antes de seguir para Santa Cruz, onde passará o resto de sua estadia de dois dias no país.

Ele parece não ter tido quaisquer dificuldades ao sair do avião, durante a leitura do discurso de chegada e no passeio ao centro da cidade para uma reunião privada com Morales.

– A Bolívia está dando passos importantes no sentido de incluir amplos setores na vida econômica, social e política do país – disse Francisco em seu discurso, vestindo um poncho branco sobre a batina branca para aquecê-lo contra o vento andino.

Morales, um indígena aymara e ex-cocaleiro, chegou ao poder em 2006 prometendo governar em favor da maioria indígena pobre, marginalizada pela elite dominante.

Em seu discurso ao papa, Morales, que frequentemente entrava em confronto com autoridades da Igreja na Bolívia antes de as relações melhorarem quando Francisco foi eleito em 2013, cumprimentou o papa como um herói que está voltando para casa.

– Em muitos momentos históricos, a Igreja foi utilizada para a dominação, subjugação e opressão. Agora, o povo boliviano te recebe com alegria e esperança – disse Morales.

– Nós te recebemos como o principal representante da Igreja Católica que vem apoiar a libertação de nosso povo boliviano.

No seu caminho para o centro de La Paz, o papa parou no local onde o corpo do padre jesuíta Luis Espinal Camps foi encontrado em 1980. O sacerdote, que era defensor forte dos direitos dos mineiros, foi torturado e assassinado por paramilitares.

– Rezemos por este nosso irmão que foi vítima de interesses – disse o papa, pedindo à multidão na estrada para se juntar a ele em um minuto de silêncio.