Estão roubando também túmulos

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Publicado Sexta, 28 de Agosto de 2015 às 20:00, por: CdB
Por Maria Lúcia Dahl, do Rio de Janeiro: Acordei esta manhã com a pergunta estranha , de uma amiga, ao telefone, que não via há séculos, querendo saber se eu tinha túmulos, quantos e aonde. Assustada , com o inusitado da questão, perguntei por que ela estava interessada nisso, achando até que alguém tinha morrido, assim à noite e precisasse de um jazigo urgente.
Que papo esquisito pra se ter de manhã, acordando...Então minha amiga explicou que eu tinha que recadastrá-los imediatamente, já que os cadastros originais dos túmulos tinham sido roubados há algum tempo por sua administração, ( outra espécie mais antiga de Mensalões e Lava-jatos) e que eles valiam um bom dinheiro, pra se deixar pra lá, já que a vida estava tão difícil. Não sabia nada de cadastros de tumbas, que foram todas compradas pela família do meu avô, em mil oitocentos e pouco. Quando era criança ia visita-los com minha irmã e babá, passeávamos pelo São João Batista, olhávamos o jazigo da Carmem Miranda, mas jamais pensamos em registros e números, pois éramos crianças e não entendíamos nada. Minha amiga então explicou que se eu quisesse vende-los valeriam um bom dinheiro, pois possuíam belas estátuas, e eram perto da rua, como apartamentos na Av: Vieira Souto dando pro mar. Liguei então pra despachantes e advogados amigos, eles explicaram que o recadastramento era obrigatório e tinha que ser imediato. Fiquei pensando como é que passa pelas cabeças das pessoas, roubarem túmulos, num lugar onde todos se benzem, rezam pelos mortos, tem religião, apreciam a arte local, olham as fotos das pessoas famosas enterradas ali. Será que ninguém têm medo de roubar fantasmas, prejudicar almas familiares, sem pensar um minuto no outro tentando esconder a verdade num poço cada vez mais fundo onde foi parar o Brasil, que, felizmente, acaba sempre por transbordar anos depois, em delações premiadas, mais valiosas que qualquer estátua esculpida em cemitério. -Ué, disse minha amiga. num país onde se mata pai, mãe, avô, tia, filho, sobrinho, vai-se ter medo de um reles fantasmazinho?. Então resolvi ir com minha amiga de outros tempos até o cemitério , fazer o tal recadastramento das tumbas aconselhada por ela, (uma pessoa que quando jovem era absolutamente honesta) hoje tem uma turma meio estranha, que fuma e bebe muito e faz cópias de quadros famosos que vendem como verdadeiros Picassos ou Van Goghs. Então pegamos um táxi, ela reconheceu o motorista de alguma gangue amiga, olhou pro seu carro e perguntou: -Então,cara, tudo joia nesse carro novo? Ao que o motorista respondeu, meio risonho, tapando a boca com a mão e falando baixo pra eu não ouvir. Não, amiga, Tem cocaína também. Maria Lúcia Dahl , atriz, escritora e roteirista. Participou de mais de 50 filmes entre os quais – Macunaima, Menino de Engenho, Gente Fina é outra Coisa – 29 peças teatrais destacando-se- Se Correr o Bicho pega se ficar o bicho come – Trair e coçar é só começar- O Avarento. Na televisão trabalhou na Rede Globo em cerca de 29 novelas entre as quais – Dancing Days – Anos Dourados – Gabriela e recentemente em – Aquele Beijo. Como cronista escreveu durante 26 anos no Jornal do Brasil e algum tempo no Estado de São Paulo. Escreveu 5 livros sendo 2 de crônicas – O Quebra Cabeça e a Bailarina Agradece-, um romance, Alem da arrebentação, a biografia de Antonio Bivar e a sua autobiografia,- Quem não ouve o seu papai um dia balança e cai. Como redatora escreveu para o Chico Anisio Show.Como roteirista fez recentemente o filme – Vendo ou Alugo – vencedor de mais de 20 premios em festivais no Brasil. Direto da Redação, editado pelo jornalista Rui Martins  
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