Erdogan diz que renuncia se Turquia vendeu petróleo ao EI

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Publicado terça-feira, 1 de dezembro de 2015 as 13:18, por: CdB

Por Redação, com DW – de Ancara/Moscou:
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, afirmou nesta terça-feira que o país não compra petróleo do grupo extremista “Estado Islâmico” (EI) e que vai renunciar se a acusação, feita pelo presidente russo, Vladimir Putin, puder ser comprovada.
– Vou dizer algo muito forte. Se isso for provado, a nobreza da nossa nação exige que eu não permaneça no cargo – declarou Erdogan, segundo a agência de notícias estatal Anatolia.
Em tom de desafio a Putin, que descartou um encontro com o líder turco em Paris, Erdogan acrescentou: “E eu digo ao senhor Putin: ‘O senhor ficaria no cargo?’. Eu digo isso claramente.”

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pediu à Turquia e à Rússia que se concentrem no “inimigo comum”, no caso o “Estado Islâmico”, após se encontrar com Erdogan em Paris.
– Nós conversamos sobre como a Turquia e a Rússia poderiam trabalhar para reduzir as tensões. Como disse ao presidente Erdogan, todos nós temos um inimigo em comum, que é o ‘Estado Islâmico’, e quero ter a certeza de que vamos nos concentrar nesta ameaça – acrescentou.
“Não somos desonestos”
Na segunda-feira, Putin acusou a Turquia de abater um jato russo, na semana passada, para proteger o fornecimento de petróleo pelo “Estado Islâmico”. Ancara rejeita essa acusação com veemência.
Erdogan afirmou que a Turquia compra petróleo e gás por meios legais. “Não somos desonestos para fazer esse tipo de troca com grupos terroristas. Todos devem saber disso. Vamos manter a calma e não agir de forma emocional.”
Putin disse ter “todos os motivos para acreditar” que a decisão de abater o avião russo “foi ditada pelo desejo de proteger a rede de abastecimento de petróleo para o território turco”, em direção aos portos onde a matéria-prima é carregada para os petroleiros.
O presidente russo afirmou ter “informações adicionais que, infelizmente, confirmam que o petróleo, produzido em áreas controladas pelo ‘Estado Islâmico’ e outras organizações terroristas, é transportado numa escala industrial para a Turquia”.
Logo após o incidente com o avião militar russo, perto da fronteira da Síria com a Turquia, Putin acusou os turcos de serem “cúmplices de terroristas”.
Os lucros da venda de petróleo são uma das principais fontes de financiamento do “Estado Islâmico”, que controla uma grande região no norte do Iraque e da Síria.

Sanções à Turquia

O serviço de imprensa do governo russo divulgou que o primeiro-ministro do país, Dmitry Medvedev, assinou nesta terça-feira o decreto implementando medidas econômicas especiais contra a Turquia.

 – O primeiro-ministro russo, Dmitry Medvedev, assinou o documento com as medidas que implementam o decreto do Presidente da Rússia (Vladimir Putin) com ações para garantir a segurança nacional da Federação Russa contra atividades criminosas ou outras ilegais e a utilização de medidas econômicas especiais contra a República da Turquia – diz a declaração.

A resolução do Conselho de Ministros aprovou em 30 de novembro a lista dos produtos agrícolas, matérias-primas e alimentos originários da Turquia que serão proibidos de serem importados para a Rússia a partir de 1 de janeiro de 2016. A relação conta com uma variedade de frutas e legumes, como tomate, cebola, pepino e uva, além de sal, frango e produtos avícolas da Turquia, segundo o governo.
A Rússia também proibiu os voos charter com a Turquia a partir de 1 de dezembro de 2015, com exceção das viagens de retorno de férias para os russos, segundo informou o serviço de imprensa do governo. O Ministério dos Transportes também foi instruído a reforçar as medidas de segurança no que diz respeito aos voos regulares entre os dois países.
Além disso, Moscou disse que iria suspender o trabalho da Comissão Intergovernamental Russo-Turca sobre Comércio e Cooperação Econômica. O governo russo ainda ordenou a suspenção das negociações com a Turquia sobre o acordo intergovernamental sobre o comércio de serviços e investimentos.
As tensões entre os dois países começaram depois que um jato turco F-16 abateu um bombardeiro russo Su-24 sobre o território sírio em 24 de novembro. Ancara alegou que o avião da Rússia tinha violado o espaço aéreo da Turquia. A equipe russa e o Comando Geral de Defesa Aérea síria confirmaram que a aeronave nunca passou para o lado turco.
No último sábado, Vladimir Putin assinou um decreto para aumentar a segurança nacional e introduzir medidas econômicas contra Ancara. As medidas proíbem ou restringem as atividades das organizações turcas na Rússia, assim como impede empregadores russos de contratar cidadãos turcos a partir de 1 de janeiro de 2016.