Documento com Alckmin sob suspeita envolve Cunha e golpistas

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Publicado Sábado, 26 de Março de 2016 às 11:58, por: CdB

Na anotação que consta da lista é possível ler, logo abaixo do nome da estrada "valor da obra = 68.730.000 (95% do preço DER)". E, em seguida: "custos c/ Santo = 3.436.500". 'Santo' seria o governador Geraldo Alckmin

Por Redação - de Brasília e São Paulo
Os documentos apreendidos nos escritórios da empreiteira Odebrecht, de posse do executivo da empresa Benedicto Barbosa da Silva Jr., agora apontam para a distribuição de propina para os políticos tucanos no Estado de São Paulo. O governador paulista, Geraldo Alckmin, figura em uma das listas apreendidas sob o codinome ‘Santo’, junto à cifra presumível de R$ 3.436.500,00.
alckmimagua.jpegAlckmin é citado em lista como suspeito de receber propina da Odebrecht
A lista, que por hora segue sob sigilo de Justiça — determinado pelo juiz Sergio Moro, titular dos processos gerados na Operação Lava Jato, da Polícia Federal (PF) —, cita uma "acomodação de mercado" para que as empresas derrotadas no certame realizado para a duplicação da rodovia Mogi-Dutra e aponta um possível pagamento de propina, no total de 5% do valor do contrato, para um suspeito identificado sob o codinome "Santo”. Policiais federais desconfiam se tratar do próprio governador do Estado à época, Alckmin, por sua ligação com setores mais radicais da Igreja Católica, entre eles o ‘Opus Dei’. O documento foi juntado ao processo como o item de número 53 do auto de apreensão da fase Acarajé da Operação Lava Jato, nas buscas realizadas no escritório do Rio de Janeiro. As planilhas citando supostos repasses do conglomerado a mais de 300 políticos de todo o país estavam no mesmo local. Na anotação que consta da lista é possível ler, logo abaixo do nome da estrada "valor da obra = 68.730.000 (95% do preço DER)". E, em seguida: "custos c/ Santo = 3.436.500". A palavra “Apóstolo" aparece rasurada, com “Santo" escrita por cima. “Em fevereiro daquele ano, um dia depois da abertura dos envelopes, o deputado estadual Luís Carlos Gondim (então PV, atualmente no Solidariedade), que tem base eleitoral na região de Mogi das Cruzes, anunciou o resultado da licitação vencida pela Construtora Queiroz Galvão, com o menor preço (R$ 68.678.651,60). Na abertura dos envelopes em 2002, a Andrade Gutierrez, a OAS e a Odebrecht apresentaram propostas acima de R$ 70 milhões e foram derrotadas”, afirma o diário conservador paulistano Folha de S. Paulo, em matéria veiculada neste sábado. A parte que a Odebrecht deveria dar ao “Santo", de acordo com a lista apreendida, seria de R$ 687 mil, em parcelas de R$ 60 mil. A primeira deveria ser paga no momento da homologação do contrato, em fevereiro de 2002. A segunda, do mesmo valor, no momento da assinatura do contrato em março daquele ano. O saldo de R$ 567 mil estava projetado para ser liquidado "nas faturas", isto é, conforme pagamentos feitos pelo governo durante o andamento da obra. Por meio de nota, a assessoria do governador Geraldo Alckmin diz que não faria comentários sobre o manuscrito que indica a ação de cartel e o suposto pagamento de propina na obra de duplicação da rodovia Mogi-Dutra: "Quem tem que explicar as anotações mencionadas pela reportagem é quem as fez. A licitação para a referida obra foi vencida pela empresa Queiroz Galvão", diz a nota. "Como a regra do governo do Estado é a total transparência, o documento foi enviado para apuração da Corregedoria Geral da Administração", acrescentou. A Odebrecht não quis emitir comentários sobre os documentos apreendidos no escritório de seu executivo: "Os esclarecimentos foram prestados durante as oitivas realizadas pela Polícia Federal", diz.

Fina flor do golpe

Na ‘Lista da Odebrecht’ também constam políticos que lideram a tentativa de golpe contra a presidente Dilma Rousseff, como os deputados Roberto Freire (PPS-SP) e Paulinho da Força (SDD-SP). Ambos aparecem na lista de beneficiários de pagamentos de bônus da empreiteira, segundo reportagem de Mateus Coutinho. Os documentos foram encontrados na casa do presidente da Odebrecht Infraestrutura Benedicto Barbosa Silva Junior, no Rio de Janeiro, e revelam “pagamentos via bônus” a partidos e a políticos de sete siglas: PSDB, PMDB, PT, DEM, PPS, PDT e PTB, nas eleições municipais de 2012. No caso de Roberto Freire, que não foi candidato naquele ano, aparece o valor de R$ 500 mil. O mesmo valor é anotado ao lado do nome de Paulinho da Força e também de outra política do PPS, a ex-vereadora Soninha Francine. Em 2012, no entanto, não há doações da Odebrecht registradas no Tribunal Superior Eleitoral para o PPS. Freire alega que o dinheiro veio de uma distribuidora de bebidas e que o partido imaginava se tratar da empreiteira. Freire, nesta manhã, liberou nota na qual afirma: “Sequer fui candidato a cargo eletivo no pleito eleitoral de 2012. A referência a meu nome na mensagem eletrônica encaminhada pelo senhor tem justificativa apenas e tão somente pelo meu exercício à frente da Presidência do PPS. Sendo a doação em questão endereçada ao partido, por óbvio, apenas se trata da indicação de meu nome como Presidente do PPS Nacional. Outra interpretação seria impossível, vez que sequer disputei as eleições neste ano de 2012. Desconheço o significado da expressão “vizinho” ao lado de meu nome no referido e-mail. “O valor de R$ 500.000,00 foi doado ao PPS pela construtora Odebrecht em 31.08.2012, e depositado na conta corrente do Diretório Estadual do PPS em Alagoas, e devidamente declarado à Justiça Eleitoral quando da prestação de contas eleitorais, conforme documento público extraído do website do Tribunal Superior Eleitoral, ora anexado. “Não conheço o Sr. Luiz Eduardo da Rocha Soares, e nunca tratei de solicitação de doações eleitorais com esse senhor. Além disso, é descabido supor que o PPS soubesse da origem – lícita ou ilícita – dos valores doados pela empresa”.

Cunha chafurda

cunha-processo.jpgCunha é, novamente, citado como receptador de propina, na Operação Lava Jato
Para a jornalista Helena Sthephanowitz, colunista do site de notícias Rede Brasil Atual (RBA), os documentos apreendidos nos escritórios do executivo da Odebrecht Benedicto Barbosa da Silva Júnior, durante a 23ª fase da Operação Lava Jato “demonstra de forma cristalina o que todo o meio político de Brasília sabia, mas faltavam provas materiais: o poder do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) sobre bancadas de parlamentares emanou do dinheiro”. “Trata-se de uma planilha de controle sobre doações oficiais nas eleições de 2010. Até aí nada de mais – a aberração do financiamento empresarial de campanha deixou de ser legal só no ano passado. "A novidade é uma coluna da planilha em que é mostrado o beneficiário da doação (veja imagem abaixo). Note que a planilha chama de beneficiário nem sempre a candidatura ou partido que recebe o dinheiro, mas em alguns casos o ‘padrinho’ da doação”. Leia, adiante, a íntegra do texto: Eduardo Cunha aparece como beneficiário de uma doação do Grupo Odebrecht de R$ 1,1 milhão para seu partido, o PMDB. Se foi ou não devidamente registrada é outra discussão e deverá ser objeto de novas investigações. O curioso é ele aparecer como "padrinho" de uma doação bem maior, de R$ 3 milhões, para o diretório nacional do PSC, atual partido do deputado Jair Bolsonaro. Cunha aparece também na planilha como "padrinho" de outra doação, de R$ 900 mil, para o PR. Ou seja, só por essas indicações na planilha, em 2010 Eduardo Cunha operou como captador de R$ 5 milhões – isso apenas junto ao Grupo Odebrecht – para três partidos, justamente os que em Brasília compõem a chamada "bancada do Cunha", ou seja, o grupo de parlamentares de vários estados que acompanha fielmente a liderança do atual presidente da Câmara em todas as votações. Ainda não há conhecimento sobre planilhas das eleições de 2014, mas é conversa corrente nos corredores do Congresso que Cunha captou mais doações de campanha para eleger uma bancada bem maior que a de 2010. Daí a facilidade com que se elegeu presidente da Câmara e fez passar projetos do interesse dos financiadores de campanha e contra os trabalhadores, tais como a terceirização ilimitada da mão de obra em toda a cadeia produtiva. Fez passar também a chamada "PEC da Corrupção", que tentou constitucionalizar o financiamento empresarial de campanha. Uma forma de perpetuar-se no poder político através do poder econômico, a raiz da corrupção. Mas, neste caso, a vitória virou derrota quando o Supremo Tribunal Federal julgou inconstitucional as empresas financiarem candidatos e partidos. Lideranças políticas captarem doações de campanha, enquanto eram permitidas por lei, não era crime, pelo contrário. Era a regra a ser seguida por todos. Cunha não era o único. O que chama atenção no caso dele é captar quase o triplo para outro partido que não era o seu. E chama mais atenção ainda sua própria atuação parlamentar. Cunha ficou conhecido por articular emendas e fazer votar matérias muitas vezes contrárias aos interesses de seus próprios eleitores. Na Operação Lava Jato, a Procuradoria-Geral da República o denunciou por usar requerimentos na Câmara como forma de pressão para receber propinas de fornecedores da Petrobras. Sob sua liderança, o processo de cassação de seu mandato no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, devido ao flagrante de contas clandestinas na Suíça, tem andado a passos de tartaruga, por meio de uma sucessão sem fim de manobras. Enquanto isso, ele continua no comando do golpe do impeachment contra uma presidenta sobre quem não há nenhuma acusação, não tem contas na Suíça e nem cometeu crime de responsabilidade. As planilhas da Odebrecht mostram pelo menos 316 políticos financiados, de 24 partidos diferentes. Óbvio que valores declarados à Justiça Eleitoral são legais, e óbvio que existem políticos que apenas são desenvolvimentistas para empreiteiras verem sinergia do mandato com suas atividades, sem se envolverem em atos de corrupção. Mas muitos outros políticos são corruptos e colocam seus mandatos a serviço do dinheiro, enganando seus próprios eleitores. E é óbvio que a Odebrecht é apenas uma das várias grandes empresas, inclusive de outros setores, como o financeiro, que mantêm ou mantiveram esse sistema político impregnado de corrupção, e tão disfuncional que levou Eduardo Cunha à presidência da Câmara, por exemplo. Mesmo com as ressalvas acima, a lista da Odebrecht mostra com rara clareza que o golpe do impeachment, além de golpe, é uma enorme farsa, pois é a luta de corruptos pela tomada do poder Executivo. A farsa do golpe é tão grande, que em sua edição de quarta-feira do Jornal Nacional, da TV Globo, censurou nomes de políticos na notícia da lista da Odebrecht. O mesmo fez o Jornal das Dez, do canal global pago, a GloboNews. Um escândalo e uma desfaçatez, já que as planilhas da empreiteira já haviam circulado viralmente pela internet, até que o juiz Sérgio Moro voltou atrás em sua decisão e determinou, tardiamente, o sigilo do material. A exposição da tal lista iria desmanchar o enredo do golpe. Nela não aparece nem Dilma, nem Lula, mas sim centenas de caciques da oposição no Congresso Nacional – justamente os que votarão no processo de impeachment. O telejornal se negou a noticiar a lista em detalhes alegando que "não haveria tempo para falar dos mais de 200 nomes da lista". Ora, para fazer um jornalismo honesto, em vez de golpista, bastaria dizer os principais nomes e os maiores valores, tais como Aécio Neves (PSDB-MG), Geraldo Alckmin e José Serra (PSDB-SP), o próprio Eduardo Cunha, governadores, prefeitos de capitais etc. E no final da notícia dizer que a lista completa estaria no site do telejornal (que aliás não está). Parece que a blindagem do Jornal Nacional não tem adiantado. Na última manifestação dos adeptos pelo impeachment, no dia 13, Aécio, Alckmin, Agripino e outros foram escorraçados em São Paulo pelo próprio público que neles votou. Em Salvador (BA), o deputado José Carlos Aleluia foi xingado ao discursar e o público atirou garrafas pet nele. No ano passado em Recife (PE), no aeroporto de Guararapes, os deputados Jarbas Vasconcelos (PMDB) e Sílvio Costa (PTdoB), além do senador Fernando Bezerra Coelho (PSB) foram homenageados por populares aos gritos de "ladrão" e "filho da p...". Vasconcelos e Bezerra Coelho estão na planilha. Demonizaram tanto a atividade política, sem fazer as reformas necessárias, que fatalmente a agenda do impeachment volta-se agora contra os próprios políticos.
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