Do ódio à esperança

Arquivado em:
Publicado Terça, 07 de Julho de 2015 às 06:55, por: CdB
Rep/Web   Sabem os publicitários que uma mentira repetida reiteradas vezes acaba aceita como verdade. É o caso dos sucos de caixinhas, vendidos como "naturais”. E ainda há quem pergunte por que tanta incidência de câncer... A Operação Lava-Jato presta excelente serviço à nação. Leva corruptores à cadeia e traz à luz bilionárias somas de recursos públicos destinadas a favorecer interesses privados. Mas por que a Lava-Jato é um samba de uma nota só? Será que houve corrupção apenas no governo do PT? E por que o Judiciário permite o vazamento de depoimentos especificamente centrados no PT? Algum diretor de revista anda corrompendo investigadores da Lava-Jato para obter o conteúdo dos depoimentos dos réus antes que cheguem à Justiça? O fato é que se criou, no Brasil, um clima de amargura e ódio. Amargura, porque Dilma prometeu na campanha o contrário do que faz agora: não tocar nos direitos dos trabalhadores. O ajuste fiscal desajusta as conquistas obtidas nos últimos 12 anos. Estão de volta a recessão, os juros altos, a inflação e, em consequência, o desemprego, a retração da indústria e o fechamento de lojas. Após 12 anos de avanços, o Brasil dá marcha a ré. O ódio resulta da falta de consciência política. Quando não se consegue racionalizar uma experiência traumática, o ódio emerge. Por isso se procura terapia quando as emoções são embaralhadas pelo ódio e a visão obnubilada pela sensação de desespero. Ou se busca uma "saída” no gesto vingativo: o jovem branco que, em nome da supremacia "ariana”, extermina negros em uma igreja, ou o Exército Islâmico que, em nome de Deus, degola inimigos... Muitos me perguntam se guardo ódio dos torturadores de meus tempos de prisão. Digo com sinceridade: não. Assim ajo, não por virtude, mas por comodismo. Aprendi que o ódio destrói primeiro quem odeia e não quem é odiado. Shakespeare já havia dito o mesmo com mais estilo: "Odiar é tomar veneno esperando que o outro morra”. O PT promoveu a inclusão econômica de milhões de brasileiros, mas se omitiu quanto à inclusão política. Não politizou a nação. Não organizou os trabalhadores. Não fortaleceu os movimentos sociais. Ao contrário, estimulou o sonho consumista e, agora, é vítima da síndrome da criança impedida de tomar sorvete – a carência gera frustração e raiva. Resta à sociedade civil descruzar os braços e não esperar dos políticos no poder. É hora de arregaçar as mangas e reorganizar a esperança. Com meros protestos não sairemos dessa depressão cívica. Há que ter propostas. O Brasil soube dar a volta por cima diante de muitos períodos críticos, tanto na monarquia quanto na República. Precisamos é deixar de lamentar e articular em especial os jovens e os movimentos sociais.   Frei Betto, é escritor.
Tags:
Edição digital

 

Utilizamos cookies e outras tecnologias. Ao continuar navegando você concorda com nossa política de privacidade.

Concordo