Rio de Janeiro, 26 de Junho de 2025

Dilma está por um fio

Por Celso Lungaretti - O mandato da presidenta Dilma Rousseff está por um fio porque ela conduziu o País à pior crise econômica desde a hiperinflação do Sarney, está tentando sair do sufoco mediante um receituário ortodoxo que prometera não adotar e, depois de trair a palavra empenhada e as pregações contra o neoliberalismo que o PT martelava há décadas, nem sequer vem obtendo sucesso.

Quinta, 16 de Julho de 2015 às 14:36, por: CdB
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Tudo indica que mandato de Dilma terminará antes do fim do ano
O mandato da presidenta Dilma Rousseff está por um fio porque ela conduziu o País à pior crise econômica desde a hiperinflação do Sarney, está tentando sair do sufoco mediante um receituário ortodoxo que prometera não adotar e, depois de trair a palavra empenhada e as pregações contra o neoliberalismo que o PT martelava há décadas, nem sequer vem obtendo sucesso. Até porque escolheu para executar o arrocho fiscal um economista insignificante e incompetente, o Chicago (office) boy Joaquim Levy.
Tudo isso se refletiu numa queda vertiginosa da popularidade de Dilma, hoje na casa de 9%. Se estivéssemos no parlamentarismo, um voto de desconfiança já a teria derrubado. E se fosse maior do que é, renunciaria antes de arrastar os brasileiros ao fundo do poço e tornar a imagem da esquerda totalmente execrável para o cidadão comum.
Pelo contrário, vocifera que não largará o osso de jeito nenhum. Eu não vou cair! Não vou! Não vou!O estilo diz tudo: Getúlio Vargas lançou um desafio altaneiro ("Só morto sairei do Catete"), Dilma mais parece criança manhosa.
E, sem ideia nenhuma de como sair do labirinto em que se meteu e voltar a ter o respaldo das ruas, seu pensamento fixo é evitar que o processo do impedimento seja instaurado contra si.
Já desistiu de desatar o nó, só não o quer em volta do seu pescoço. Sabe que, fragilizada  e pessimamente avaliada como está, uma vez colocado nos trilhos o trem do impeachment, poucos parlamentares se disporão a frustrar o eleitorado, arriscando o próprio futuro político.
A obstinação cega de Dilma em permanecer no cargo a qualquer preço e dos oposicionistas em derrubá-la a qualquer preço vem produzindo um cenário político próximo da insanidade. A república está se esfarelando.
E, depois de comermos o pão que o diabo amassou para darmos um fim ao arbítrio, o aprendizado democrático que oferecemos às novas gerações é desalentador, bem do tipo cria cuervos.  Nada de alvissareiro prenuncia.
A arena em que os gladiadores se digladiam é a da investigação das roubalheiras. As duas facções exercem terríveis pressões de bastidores, uma para envolver Eduardo Cunha e Renan Calheiros, a outra para comprometer Dilma e Lula. É a política degradada a uma guerra de tortas de lama.
Como consequência, o relacionamento entre Executivo e Legislativo está chegando ao ponto de ebulição. E o Judiciário se faz de morto o melhor que pode.
Enquanto os poderosos brigam, os coitadezas que se danem! Se a recessão atual evoluir para depressão, azar! O que importa é o poder, só o poder, nada mais que o poder.
É a versão brasileira da marcha da insensatez. E até agora não se vislumbra sequer uma réstia de luz no fim do túnel.
Entre a desmobilização das férias escolares de julho e a dos festejos natalinos, teremos quatro meses que se anteveem quentes e decisivos. O impasse atual precisa chegar a algum desfecho, para o Brasil não estagnar de vez, nem entrar numa espiral de turbulência. E, se continuar inexistindo um mínimo de grandeza política por parte das facções em conflito, tal desfecho não unirá o País.
O ideal seria não haver vencedores e derrotados, facilitando a reconstrução e não deixando engatilhadas novas disputas autofágicas. Mas, para isto precisaríamos de atores políticos de primeira grandeza. Não os temos, infelizmente.

EM 1969 FOMOS GOVERNADOS POR TRÊS MILICOS. ESTARÁ CHEGANDO A VEZ DOS TRÊS PATETAS?

Alguém soprou para as repórteres Marina Dias e Natuza Nery, da Folha de S. Paulo, o que teria sido discutido na 5ª feira passada (9), quando o presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha, recebeu na sua residência oficial o ministro do STF Gilmar Mendes e o dirigente sindical Paulinho da Força.
O último teria então sustentado que um processo de impedimento da presidenta Dilma Rousseff requer um acordo prévio entre quatro pessoas: o próprio Cunha, o vice-presidente Michel Temer, o presidente do Senado Renan Calheiros e o presidente do PSDB Aécio Neves.
A ideia seria, defenestrada Dilma, partir-se para um parlamentarismo branco: Temer compartilharia o poder com Cunha e Calheiros até as eleições de 2018.
Bem, como fomos governados em 1969 pelos ministros militares, inexiste a possibilidade de triunvirato pior. Temer, Cunha e Calheiros não são daqueles que matam pessoas; só matam nossas esperanças num Brasil melhor.
As repórteres acrescentaram que a possível rejeição das contas de 2014 do governo faz parte dos planos para a derrubada de Dilma.Neste sentido, o Tribunal de Contas da União teria sido, na surdina, pressionado pelos oposicionistas a adiar (como adiou) a análise das ditas cujas para agosto, após o recesso parlamentar.
Ou seja, o Congresso precisaria estar funcionando para servir como caixa de ressonância, no sentido de maximizarem o impacto de um veredicto negativo do TCU.

DILMA, ACORDA! A RECESSÃO DO LEVY VAI GERAR UM TSUNAMI SOCIAL.

Segundo um trabalho comparativo divulgado na última 4ª feira (8) pelo mui respeitado Pew Research Center, até 2011 a classe média (renda diária entre 10 e 20 dólares) englobava, no Brasil, 27,8% da população, com um avanço de 10,3 pontos percentuais na comparação com 2001.Houve melhora, mas insuficiente para nos caracterizar como um país de classe média, conforme martela a propaganda enganosa oficial.
A faixa dos pobres (renda diária de até US$ 2) é de 7,3% e a dos de baixa renda (renda diária entre 2 e 10 dólares), de 43,6%.
Como os anos de 2012 para cá não foram economicamente auspiciosos, é provável que a situação continue mais ou menos a mesma.
Conclusão do comentarista internacional Clóvis Rossi: "a crise brasileira não vai incidir em um país de classe média, portanto com certa gordura para queimar, mas em um país pobre, muito pobre".
É o que venho alertando. O arrocho fiscal do Joaquim Levy vai matar brasileiros de fome e consequências da miséria, literalmente. Temos de procurar uma saída heterodoxa para o buraco em que estamos. A ortodoxa é impraticável, vai gerar um tsunami social.
Em seu último artigo, o Demétrio Magnoli afirmou que, se Dilma devolver o Joaquim Levy à sua insignificância e mudar a política econômica, "precipitará o desenlace que tenta evitar", supostamente sucumbindo às pressões dos poderosos.
Mas, se não mudar, este país vai pegar fogo nos próximos meses, com saques e tumultos que acabarão por produzir o mesmíssimo resultado vaticinado pelo Magnoli.
A diferença é que uma petista, ex-pedetista e ex-guerrilheira sairá bem melhor na foto se for derrubada por um golpe das elites do que pela revolta e desespero do povão.
Celso Lungaretti, jornalista e escritor, foi resistente à ditadura militar ainda secundarista e participou da Vanguarda Popular Revolucionária. Preso e processado, escreveu o livro Náufrago da Utopia. Tem um ativo blog com esse mesmo título. Direto da Redação é um fórum de debates editado pelo jornalista Rui Martins.
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