Os movimentos das forças civis ganham mais espaços nas ruas e nas redes sociais, embora a censura econômica tenha levantado novas barreiras
Por Redação - de Belo Horizonte, Brasília e Curitiba
Se a presidenta Dilma Rousseff pretende voltar ao poder, precisará fazer uma autocrítica séria e estabelecer, com clareza, os objetivos que pretende atingir nos dois anos que lhe restam, caso vença a eleição final, no Plenário do Senado. A advertência é do senador Roberto Requião (PMDB-PR), em seu microblog, publicada neste domingo.
Em Belo Horizonte, no encontro de blogueiros, Dilma não admitiu seus erros na Comunicação Social
Entre as falhas na Economia, com o ponto alto na contratação do economista ultraconservador Joaquim Levy; as traições do PMDB, ao qual loteou metade do governo, e as concessões aos adversários da extrema direita foram os principais erros do governo afastado no golpe de 13 de Maio deste ano. Mas, na Comunicação Social, concentram-se as falhas que mais pesaram no estabelecimento do golpe, em curso. À beira de uma ditadura — caso uma possível decisão pela volta da presidenta ao cargo não seja efetivada —, o país caminha para a conflagração social.
Os movimentos das forças civis ganham mais espaços nas ruas e nas redes sociais, embora a censura econômica tenha levantado novas barreiras, entre elas a mais efetiva, que é o corte imediato de todo e qualquer recurso publicitário aos meios de comunicação ligados à esquerda. Registre-se, ainda, o fim de qualquer apoio, moral ou material, aos movimentos sociais e a tomada, à força, da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), com a destituição de uma diretoria eleita por quatro anos.
Para o senador peemedebista, que votou contra o processo de impeachment da presidenta da República, é preciso também uma reflexão mais objetiva do movimento de resistência ao golpe de Estado:
“Acabem com a tolice de ‘volta querida’. Os senadores nacionalistas (e) desenvolvimentistas esperam autocrítica e proposta séria para o país”, escreveu Requião.
E continua: “Dilma pode voltar com autocrítica forte de seu governo e compromisso que mobilize os democratas nacionalistas e desenvolvimentistas do Senado”.
Dilma precisará, caso seu objetivo seja completar o mandato para o qual foi eleita, demonstrar o seu compromisso com o empoderamento popular dos meios econômicos, com as reformas sociais e com uma política de desenvolvimento votada ao programa de extinção da miséria no país.
“Empenhamos nossa vontade e força contra impeachment. Precisamos de compromisso claro de mudança na economia e política de desenvolvimento”, advertiu Requião, para quem “54 milhões votamos em um programa contra o entreguismo, o arrocho, a favor do desenvolvimento, dos direitos sociais”.
Na opinião do senador, em entrevista ao Blog do Esmael, Dilma precisar oferecer um motivo plausível para que os senadores a reconduzam ao cargo.
“Ela não voltará para fazer o que estava fazendo na economia. Ou rompe com o antigo modelo ou terá o afastamento confirmado pelo Senado”, afirmou.
Lula concorda
Para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em recente entrevista ao canal latino-americano de TV TeleSUR, a presidenta Dilma Rousseff poderá voltar a governar o Brasil, se calçar as sandálias da humildade e reconhecer que errou, tanto nos rumos econômicos, quanto políticos e, principalmente, na forma como executou um plano suicidada de Comunicação. Em cinco anos de governo, Dilma patrocinou a mídia conservadora, penalizou jornais, revistas e blogs independentes; privilegiou com informações em primeira mão os veículos que agora apoiam o golpe de Estado e, praticamente, proibiu o acesso da mídia alternativa aos recursos públicos.
— Quem convenceu 54 milhões de eleitores não terá dificuldade, se houver dedicação, de convencer seis senadores a mudarem seus votos — calcula o ex-presidente.
A presidenta, porém, ainda não qualquer movimento no sentido de admitir que errou e, se voltar ao Palácio do Planalto, que mudará os rumos da sua gestão. Segundo Esmael Moraes, autor do blog, aliados da presidenta afastada “observam que ela não tem feito corpo a corpo entre os senadores”.
“Eles também apontam a ausência de proposta alternativa ao que Michel Temer vem fazendo na interinidade. Ou seja, Dilma teria de fazer autocrítica dos erros na economia”, acrescenta. Ainda assim, Dilma compareceu ao 5˚ Encontro Nacional de Blogueiros e Ativistas Digitais, realizado em Belo Horizonte, neste fim de semana. Em seu discurso, em que pese a emoção por constatar o apoio do público e a solidariedade pela presidente semi-deposta, Dilma foi tímida na defesa das mudanças de rumo em uma provável continuação do mandato.
Novamente, não deixou claro se poderá voltar a patrocinar a mídia golpista e penalizar os meios de comunicação independentes e de esquerda, se pretende liderar o movimento pela democratização da mídia ou se continuará com o bordão de que tudo se resume ao “controle remoto”. Em sua fala, a uma sala lotada de midiativistas, desfio o rosário de sua inocência quanto às pedaladas fiscais e criticou as últimas medidas de seu algoz, o presidente de facto, Michel Temer.
Mais experiente, na entrevista de Lula à TeleSUR, Lula admitiu que houve “equívocos no segundo mandato”.
“Nós ganhamos com um discurso e colocamos em prática uma política econômica que não era do discurso da eleição. Isso magoou muita gente, e a Dilma sabe disso”, admite.
Para o ex-presidente, “essa gente agora começa a ir para rua para garantir a democracia. Essa gente está magoada com nosso governo, mas não aceita o Temer”.
Assista à entrevista de Lula à TeleSUR:
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