Conversa com Jucá indica que golpe foi pacto para barrar Lava Jato

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Publicado Segunda, 23 de Maio de 2016 às 07:40, por: CdB

Na conversa, Jucá e Machado dizem que o único empecilho no pacto era o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), porque odiaria Cunha

Por Redação, com Agências de Notícias - de Brasília:
Em diálogos gravados em março passado – e revelados na edição desta segunda-feira por um jornal de São Paulo, o ministro interino do Planejamento, senador licenciado Romero Jucá (PMDB-RR) sugeriu ao ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado que uma "mudança" no governo federal resultaria em um pacto para "estancar a sangria" representada pela Operação Lava Jato. À época, ambos se sentiam ameaçados pela eminente revelação de envolvimentos em casos de corrupção e propina. Segundo a reportagem, as conversas, que estão em poder da Procuradoria-Geral da República, ocorreram semanas antes da votação na Câmara que desencadeou o impeachment da presidenta Dilma Rousseff.
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Romero Jucá, negou nesta segunda-feira em entrevista que tenha sugerido um pacto para deter o avanço da operação Lava Jato
Machado se mostra preocupado com o envio do seu caso para a PF de Curitiba e chegou a fazer ameaças: "Aí f.... Aí f... para todo mundo. Como montar uma estrutura para evitar que eu 'desça'? Se eu 'descer'...". O atual ministro concorda que o envio do processo para o juiz Sérgio Moro não seria uma boa opção e o chamou de "uma 'Torre de Londres'", em referência ao castelo da Inglaterra em que ocorreram torturas e execuções entre os séculos 15 e 16. Segundo ele, os suspeitos eram enviados para lá "para o cara confessar". Por sua vez, Jucá afirma que seria necessária uma resposta política: "Tem que resolver essa p.... Tem que mudar o governo para estancar essa sangria", diz Jucá. Ele acrescenta que um eventual governo Michel Temer deveria construir um pacto nacional "com o Supremo, com tudo". Machado concorda: "aí parava tudo". Na conversa, eles dizem que o único empecilho no pacto era o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), porque odiaria Cunha. "Só Renan que está contra essa p... porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha. Gente, esquece o Eduardo Cunha. O Eduardo Cunha está morto, p...", afirma Jucá no diálogo gravado. "O Renan reage à solução do Michel. P..., o Michel, é uma solução que a gente pode, antes de resolver, negociar como é que vai ser. 'Michel, vem cá, é isso, isso e isso, vai ser assim, as reformas são essas'", diz Jucá a Machado. O advogado do ministro do Planejamento, Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, afirmou que Romero Jucá "jamais pensaria em fazer qualquer interferência" na Lava Jato e que as conversas não contêm ilegalidades.

Jucá nega pacto

O ministro do Planejamento, Romero Jucá, negou nesta segunda-feira em entrevista à rádio CBN que tenha sugerido um pacto para deter o avanço da operação Lava Jato em conversa gravada de forma oculta com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado e que se sente em condições de continuar no seu cargo. - Eu não estava me referindo à operação Lava Jato. Nós estávamos conversando sobre a economia do país, a situação de gravidade - disse o senador licenciado à rádio. - Eu entendia que o governo Dilma tinha se exaurido, que nós tínhamos que ter um novo governo, que o eixo do novo governo não podia ser a operação Lava Jato, que estava paralisando o governo. Essa sangria eu me refiro à situação de gravidade econômica e social do país - acrescentou Jucá, que também é o presidente em exercício do PMDB atualmente. Na entrevista desta segunda-feira, Jucá afirmou que se sente totalmente em condições de permanecer no governo e continuar normalmente com o trabalho, lembrando que nesta segunda-feira vai trabalhar junto ao Congresso Nacional para a aprovação da nova meta de déficit fiscal. - Pretendo continuar trabalhando. Hoje tenho que cuidar da aprovação do déficit fiscal, que é um problema para o governo que está dentro desse quadro de dificuldades que foi herdado pelo governo Temer - afirmou.

Trechos da conversa

Sérgio Machado - Mas viu, Romero, então eu acho a situação gravíssima. Romero Jucá - Eu ontem fui muito claro. [...] Eu só acho o seguinte: com Dilma não dá, com a situação que está. Não adianta esse projeto de mandar o Lula para cá ser ministro, para tocar um gabinete, isso termina por jogar no chão a expectativa da economia. Porque se o Lula entrar, ele vai falar para a CUT, para o MST, é só quem ouve ele mais, quem dá algum crédito, o resto ninguém dá mais credito a ele para porra nenhuma. Concorda comigo? O Lula vai reunir ali com os setores empresariais? Machado - Agora, ele acordou a militância do PT. Jucá - Sim. Machado - Aquele pessoal que resistiu acordou e vai dar merda. Jucá - Eu acho que... Machado - Tem que ter um impeachment. Jucá - Tem que ter impeachment. Não tem saída. Machado - E quem segurar, segura. Jucá - Foi boa a conversa mas vamos ter outras pela frente. Machado - Acontece o seguinte, objetivamente falando, com o negócio que o Supremo fez [autorizou prisões logo após decisões de segunda instância], vai todo mundo delatar. Jucá - Exatamente, e vai sobrar muito. O Marcelo e a Odebrecht vão fazer. Machado - Odebrecht vai fazer. Jucá - Seletiva, mas vai fazer. Machado - Queiroz [Galvão] não sei se vai fazer ou não. A Camargo [Corrêa] vai fazer ou não. Eu estou muito preocupado porque eu acho que... O Janot [procurador-geral da República] está a fim de pegar vocês. E acha que eu sou o caminho. [...] Jucá - Você tem que ver com seu advogado como é que a gente pode ajudar. [...] Tem que ser política, advogado não encontra [inaudível]. Se é político, como é a política? Tem que resolver essa porra... Tem que mudar o governo pra poder estancar essa sangria. [...] Machado - Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel [Temer]. Jucá - Só o Renan [Calheiros] que está contra essa porra. 'Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha'. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra. Machado - É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional. Jucá - Com o Supremo, com tudo. Machado - Com tudo, aí parava tudo. Jucá - É. Delimitava onde está, pronto. [...] Machado - O Renan [Calheiros] é totalmente 'voador'. Ele ainda não compreendeu que a saída dele é o Michel e o Eduardo. Na hora que cassar o Eduardo, que ele tem ódio, o próximo alvo, principal, é ele. Então quanto mais vida, sobrevida, tiver o Eduardo, melhor pra ele. Ele não compreendeu isso não. Jucá - Tem que ser um boi de piranha, pegar um cara, e a gente passar e resolver, chegar do outro lado da margem. Machado - A situação é grave. Porque, Romero, eles querem pegar todos os políticos. É que aquele documento que foi dado... Jucá - Acabar com a classe política para ressurgir, construir uma nova casta, pura, que não tem a ver com... Machado - Isso, e pegar todo mundo. E o PSDB, não sei se caiu a ficha já. Jucá - Caiu. Todos eles. Aloysio [Nunes, senador], [o hoje ministro José] Serra, Aécio [Neves, senador]. Machado - Caiu a ficha. Tasso [Jereissati] também caiu? Jucá - Também. Todo mundo na bandeja para ser comido. [...] Machado - O primeiro a ser comido vai ser o Aécio. Jucá - Todos, porra. E vão pegando e vão... Machado - [Sussurrando] O que que a gente fez junto, Romero, naquela eleição, para eleger os deputados, para ele ser presidente da Câmara? [Mudando de assunto] Amigo, eu preciso da sua inteligência. Jucá - Não, veja, eu estou a disposição, você sabe disso. Veja a hora que você quer falar. Machado - Porque se a gente não tiver saída... Porque não tem muito tempo. Jucá - Não, o tempo é emergencial. Machado - É emergencial, então preciso ter uma conversa emergencial com vocês. Jucá - Vá atrás. Eu acho que a gente não pode juntar todo mundo para conversar, viu? [...] Eu acho que você deve procurar o [ex-senador do PMDB José] Sarney, deve falar com o Renan, depois que você falar com os dois, colhe as coisas todas, e aí vamos falar nós dois do que você achou e o que eles ponderaram pra gente conversar. Machado - Acha que não pode ter reunião a três? Jucá - Não pode. Isso de ficar juntando para combinar coisa que não tem nada a ver. Os caras já enxergam outra coisa que não é... Depois a gente conversa os três sem você. Machado - Eu acho o seguinte: se não houver uma solução a curto prazo, o nosso risco é grande. Machado - É aquilo que você diz, o Aécio não ganha porra nenhuma... Jucá - Não, esquece. Nenhum político desse tradicional ganha eleição, não. Machado - O Aécio, rapaz... O Aécio não tem condição, a gente sabe disso. Quem que não sabe? Quem não conhece o esquema do Aécio? Eu, que participei de campanha do PSDB... Jucá - É, a gente viveu tudo. Jucá - [Em voz baixa] Conversei ontem com alguns ministros do Supremo. Os caras dizem 'ó, só tem condições de [inaudível] sem ela [Dilma]. Enquanto ela estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca'. Entendeu? Então... Estou conversando com os generais, comandantes militares. Está tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir. Estão monitorando o MST, não sei o quê, para não perturbar. Machado - Eu acho o seguinte, a saída [para Dilma] é ou licença ou renúncia. A licença é mais suave. O Michel forma um governo de união nacional, faz um grande acordo, protege o Lula, protege todo mundo. Esse país volta à calma, ninguém aguenta mais. Essa cagada desses procuradores de São Paulo ajudou muito. [referência possível ao pedido de prisão de Lula pelo Ministério Público de SP e à condução coercitiva ele para depor no caso da Lava jato] Jucá - Os caras fizeram para poder inviabilizar ele de ir para um ministério. Agora vira obstrução da Justiça, não está deixando o cara, entendeu? Foi um ato violento... Machado -...E burro [...] Tem que ter uma paz, um... Jucá - Eu acho que tem que ter um pacto. [...] Macahdo - Um caminho é buscar alguém que tem ligação com o Teori [Zavascki, relator da Lava Jato], mas parece que não tem ninguém. Jucá - Não tem. É um cara fechado, foi ela [Dilma] que botou, um cara... Burocrata da... Ex-ministro do STJ [Superior Tribunal de Justiça].
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