Manifestantes bloquearam nesta terça-feira rodovias em pelo menos cinco Estados e no Distrito Federal e também em vias importantes das duas maiores cidades do país
Por Redação, com ABr - de Brasília/São Paulo:
Com pneus queimados, faixas e cartazes contrários ao processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, manifestantes bloquearam nesta terça-feira rodovias em pelo menos cinco Estados e no Distrito Federal e também em vias importantes das duas maiores cidades do país, Rio de Janeiro e São Paulo.
No Rio, usando faixas em que se lia “não vai ter golpe” os manifestantes bloquearam a rodovia Rio-Santos, na altura de Itaguaí. Mais cedo, a via Dutra, que liga o Rio a São Paulo, também chegou a ser interditada, mas foi liberada, de acordo com informações do Centro de Operações da prefeitura carioca.
Em São Paulo, os manifestantes interditaram logo cedo duas das principais vias expressa da região metropolitana.
Golpe
Um outro grupo com faixas chamando o processo de impedimento da presidenta de “golpe” interditou a rua Evandro Carlos de Andrade, no sentido centro, em frente à sede paulista da Rede Globo. Os participantes do protesto acusam a emissora de parcialidade na cobertura do impeachment.
Em Brasília, foram bloqueadas com pneus queimados as rodovias BR-070 (Brasília-Mato Grosso), na altura do km 18, perto de Águas Lindas, e a BR-020 (Brasília-Salvador), na altura do km 17. Ambos os protestos foram encabeçados pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Eles reivindicam também a reforma agrária, além da suspensão do processo de impeachment de Dilma.
De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), manifestantes - ligados à Central Única dos Trabalhadores (CUT) e ao MST - bloquearam também a BR-101, na altura do km 83, em Pernambuco. No Amazonas, foi interditada a BR-174, na altura da cidade de Presidente Figueiredo. Na Paraíba, foi fechada BR-230, em Bayeux, enquanto que na Bahia os manifestantes da CUT interditaram a BR-324, em Feira de Santana.
Os manifestantes contrários ao afastamento de Dilma fecharam também a BR-262, em Viana, no Espírito Santo. No Rio Grande do Sul, o acesso a Porto Alegre ficou interditado devido a um protesto na BR-290.
Na segunda-feira, a CUT divulgou nota em que anunciava um dia nacional de mobilizações e paralisações para esta terça-feira. Segundo o texto, seriam realizados atos em todos os Estados, incluindo o fechamento de rodovias, passeatas e ocupações de escolas e universidades.
São Paulo
Manifestantes ocuparam na manhã desta terça-feira a Marginal Tietê, nas imediações da ponte do Tatuapé, como parte de uma série de protestos contra o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Mais cedo, os integrantes de movimentos sociais haviam interrompido o trânsito nos dois sentidos da Avenida 23 de Maio, próximo ao Terminal Bandeira, na Marginal Pinheiros, perto da ponte do Brooklin, e na Rodovia Hélio Schmidt, que dá acesso ao Aeroporto Internacional de Guarulhos.
Os atos começaram simultaneamente por volta das 6h30 da manhã. No entanto, às 7h30 a Rodovia Hélio Schmidt e a Marginal Pinheiros, na região do Morumbi, permaneciam parcialmente ocupadas por manifestantes.
O coordenador da Central de Movimentos Populares (CMP), Raimundo Bonfim, contestou a argumentação usada para o processo de destituição de Dilma. “Eles podem dizer que é uma violência fechar uma avenida como a 23 de Maio e outros pontos na cidade de São Paulo. Mas não é uma violência em comparação com o que eles estão fazendo com a Constituição brasileira. Está tendo um processo de impeachment que não tem embasamento jurídico, essa é a maior violência”, ressaltou em entrevista logo após o fim do bloqueio próximo ao Terminal Bandeira.
As principais preocupações dos movimentos são em relação aos direitos trabalhistas e aos programas sociais. “Um eventual governo Temer já sinalizou que será um governo de ataque às conquistas dos trabalhadores, no sentido das leis trabalhistas e previdenciária, dos programas sociais e da própria soberania do nosso país”, disse Bonfim.
Para o coordenador, a decisão do presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão, de anular a sessão que aprovou a continuidade do impeachment e as repercussões do fato explicitam os problemas do sistema político.
– É uma situação que demonstra a fragilidade, fragmentação e falta de autoridade do Congresso Nacional, tanto da Câmara dos Deputados, quanto do Senado – disse, ao defender a necessidade de uma reforma no sistema político.
Maranhão decidiu na segunda-feira acatar um recurso da Advocacia-Geral da União e anular a sessão que votou pela abertura de processo de impedimento contra Dilma. A decisão foi, entretanto, ignorada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, que determinou que fosse lido o parecer favorável à admissibilidade do processo no plenário da Casa. Com isso, começou a contar o prazo de 48 horas para que os senadores votem a admissibilidade e o afastamento da presidenta por 180 dias, o que deve ocorrer nesta quarta-feira.