Integrante da pré-lista de nove filmes que disputam as cinco vagas concorrentes ao Oscar de filme estrangeiro 2011, o drama mexicano Biutiful, do diretor Alejandro González Iñárritu, reúne alguns dos temas caros à filmografia do diretor - como a morte, o espiritualismo, além de um denso mergulho no problema da exploração do trabalho de imigrantes clandestinos na Europa.
Integrante da pré-lista de nove filmes que disputam as cinco vagas concorrentes ao Oscar de filme estrangeiro 2011, o drama mexicano Biutiful, do diretor Alejandro González Iñárritu (Babel), reúne alguns dos temas caros à filmografia do diretor - como a morte, o espiritualismo, além de um denso mergulho no problema da exploração do trabalho de imigrantes clandestinos na Europa.
É numa Barcelona sombria que o protagonista, Uxbal (Javier Bardem), luta pela sobrevivência. Apesar de europeu, ele não tem outra escolha a não ser tornar-se agenciador do trabalho de imigrantes chineses e africanos para sustentar seus dois filhos pequenos. A extrema dedicação às crianças, aliás, é um dos traços que redime este homem extremamente dividido.
Em entrevista por telefone a partir de Los Angeles, onde mora, o diretor Iñárritu, que corroteirizou o filme, disse que "a complexidade da natureza de Uxbal era justamente o que me interessava nele. Ele não é bom nem mau. Não é fácil julgá-lo".
A imigração ilegal entrou na história a partir de uma ampla pesquisa, que incluiu entrevistas do diretor com dezenas de africanos e chineses. Alguns deles estão no elenco como atores secundários.
– Precisava entender como viviam, sua relação com as populações locais e as autoridades. O trabalho desses não atores, inclusive, dá ao filme essa verdade, porque é um documento hiper-realista –, afirmou.
Para Iñárritu, a imigração ilegal "é a escravidão do século XXI".
A morte interfere na trajetória de Uxbal em mais de um momento, quando ele se vê diante de uma grave enfermidade, e também pelos riscos que seus trabalhadores correm diariamente pelas precárias condições de alojamento e trabalho. Paralelamente, o personagem tem um dom mediúnico, com o qual não lida muito bem - embora eventualmente e a contragosto dê consultas e receba dinheiro por isso.
Falando da morte, que entra sempre em seus filmes - como Amores Brutos (2002), 21 Gramas (2003) e Babel (2006) - o diretor explica:
– Eu sempre observo a morte a partir da vida. Mais que a morte, me interessa a vida. E é ao sentir que pode morrer que Uxbal, paradoxalmente, sente que a vida está ganhando significado. Ele encontra esse sentido no amor, na compaixão.
Já a espiritualidade é um tema que há muito tempo intriga o diretor.
– Senti-me sempre estimulado pela ideia de vida após a morte. É fascinante este debate se somos mais do que corpo, sangue e carne, embora eu esteja sempre em conflito entre crer e não crer. Ainda assim, me interessou colocar isso no diálogo do filme.
Para este tema, igualmente, o diretor entrevistou diversas pessoas, algumas das quais tinham conflitos com seu dom, como Uxbal.
– Foram estas que me impactaram –, admitiu.
Integrante do trio de diretores e produtores mexicanos de maior circulação internacional, ao lado de Alfonso Cuarón (Filhos da Esperança) e Guillermo Del Toro (O Labirinto do Fauno), Inárritu comenta como vê o fato de filmar em vários países fora do seu:
– Interessa-me o ser humano, além da geografia, do idioma, do lugar onde se filma. Na alteridade, encontro a mim mesmo. Somos todos similares em tantos aspectos.
Neste momento, o diretor - que deveria ter vindo ao Brasil para lançar Biutiful mas teve que cancelar por problemas pessoais - já está envolvido na escrita de algumas novas histórias. Mas nada será para já.
– Geralmente levo dois anos num roteiro. Não gosto de análise demais, senão isto gera paralisia. Gosto de ir encontrando o tom e o ritmo do filme aos poucos. Filmando, encontro mais este ritmo. Mas na montagem é que o encontro realmente.
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