Grécia prepara saída da zona do euro e abre crise na Europa
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Quarta, 17 de Junho de 2015 às 15:46, por: CdB
Um grupo de países europeus ultimava, nesta quarta-feira, os planos de contingência para o fim da presença grega na zona euro e na União Europeia. A notícia, veiculada na agência norte-americana Bloomberg no final da tarde (horário de Brasília), aponta que Estados europeus, sem detalhar exatamente quais, já avaliam os planos de contingência para a saída da Grécia da zona euro e da União Europeia.
Ainda nesta quarta-feira, o premiê português, Passos Coelho, admitiu que seu país reforçou o caixa para "resistir às turbulências do mercado até final do ano". Após a reunião do Eurogrupo, nesta quinta-feira, é provável que haja uma outra durante o fim-de-semana, com os mercados fechados, que anunciará ao mundo o primeiro rompimento na história do bloco europeu, desde a sua formação, no século passado.
"Depois é fugir para os abrigos na segunda-feira, com medidas para controlar a saída de capitais e evitar uma enorme corrida aos bancos", afirma o diário português Jornal i, nesta tarde.
Impasse
Ainda nesta quarta-feira, o primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, conversou com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, conforme continuavam os esforços para romper o impasse entre o governo de Atenas e seus credores, disse uma autoridade grega à agência inglesa de notícias Reuters.
A fonte não deu detalhes sobre o telefonema, que aconteceu um dia depois de Juncker acusar Tsipras de dar ao povo grego uma versão distorcida das demandas dos credores após o colapso das negociações entre as parte no domingo.
Os ministros das Finanças da zona do euro devem se encontrar em Luxemburgo nesta quinta-feira, mas as esperanças de uma solução na reunião se dissiparam depois que o ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, disse a repórteres em Paris que um acordo entre chefes de Estado e o governo seria necessário para um pacto.
"Perdemos todos"
Em uma análise publicada, nesta tarde, sob o título Grécia. Perdemos todos (e a democracia também), também no Jornal i a jornalista portuguesa Ana Sá Lopes afirma que "a derrota de Tsipras é a derrota de qualquer tentativa de corte com a austeridade".
Leia, adiante, o artigo de Ana Lopes:
A derrota de Alexis Tsipras, que não conseguiu convencer a Europa da bondade de uma agenda antiausteridade, está longe de ser apenas a derrota do Syriza e da Grécia. Tsipras, eleito com um mandato para manter a Grécia no euro, provou que qualquer tentativa de conseguir uma alternativa de esquerda para um país está condenada ao fracasso ou à saída da zona euro.
A derrota de Tsipras é a derrota de qualquer tentativa de corte com a austeridade. Dentro da Europa não há matizes: infelizmente existe uma agenda única, a dos “compromissos europeus”, que podem ser mais ou menos bem desenvolvidos conforme as personagens envolvidas. Acabaram agora as ilusões: não há política sem austeridade na zona euro. A Europa ilegalizou a social--democracia quando aprovou o famoso “défice zero” do Tratado Orçamental, como na altura vários economistas notaram.
Alexis Tsipras disse ontem que não cedia mais porque estava em causa a democracia, o programa com o qual foi eleito – e não queria deixar morrer a democracia no lugar onde ela nasceu, a Grécia. Mas os acontecimentos na Grécia provam que a democracia tal como a conhecemos deixou de existir na prática, fruto da confluência de várias democracias sobrepostas. Ou seja, os eleitores da Alemanha, da Finlândia e de muitos outros países não permitem uma agenda contra a austeridade.
Os países mais frágeis, como a Grécia (e o nosso), têm duas alternativas: ou se submetem, fazendo das eleições legislativas nacionais uma escolha entre a opção A e a opção A+, ou saem do euro. A maioria do eleitorado grego não queria sair do euro e foi por isso que Alexis Tsipras sempre recusou apresentar a hipótese aos eleitores – mas ficou provado que a Europa não mudou e dificilmente irá mudar depois de tantos esgazeados de contentamento com a derrota grega.
O problema desta história é que, como dizia Draghi, navegamos para “águas desconhecidas”. Imaginar que Portugal sai disto ileso não passa pela cabeça de nenhum economista.
Ana Sá Lopes é jornalista, começou a trabalhar em 1987 no semanário lisboeta O Jornal. Fez parte da equipe fundadora do jornal Público, em 1989, onde trabalhou por 16 anos. Seguiu-se o Diário de Notícias (DN). Está no i desde a fundação do jornal.