Rio de Janeiro, 09 de Dezembro de 2024

E afinal, quem são os amantes da rainha?

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Sexta, 11 de Dezembro de 2015 às 10:23, por: CdB

Rainha no tabuleiro: Ao assumir a presidência da Câmara, em fevereiro, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) trabalhou pessoalmente pela eleição de um sucessor na liderança do PMDB

Por Maria Fernanda Arruda - do Rio de Janeiro: Eles frequentam as páginas políticas dos jornais, mas fazem sucesso muito menor que o merecido. Quem são, afinal, os Picciani? Jorge Picciani é um notável pecuarista desde 1984, quando comprou a fazenda Monte Verde, em Rio das Flores. Hoje ele é proprietário de fazendas em Minas Gerais e no Mato Grosso, tendo se tornado referência nacional da produção de “alta genética” para as raças Nelore e Gir leiteiro. O senhor Jorge Picciani está incluído na relação dos proprietários rurais suspeitos de uso de trabalho escravo. Iniciou sua carreira política em 1990, tendo sido eleito deputado estadual no Rio de Janeiro por quatro vezes sucessivas: é um autêntico tetracampeão. Entre 2003 e 2010 presidiu a Assembleia Legislativa. Candidato ao senado em 2010, não foi eleito, voltando à sua antiga casa em 2014, sendo novamente o seu presidente. Ele e o filho apoiaram a candidatura de Aécio Neves, opondo-se assim aos caciques do PMDB do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, Pezão, Eduardo Paes.
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Eduardo Cunha vem de defenestrar o jovem Leonardo Picciani, que deixa de ser o líder do partido
Ao assumir a presidência da Câmara, em fevereiro, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) trabalhou pessoalmente pela eleição de um sucessor na liderança do PMDB para ajudá-lo a ditar o ritmo da Casa e pavimentar um amplo e multipartidário apoio à sua gestão, que desde o início prometia turbulências para o Planalto. Com a bênção do peemedebista, assumiu a cadeira seu conterrâneo Leonardo Picciani, deputado da ala rebelde do partido que, em 2014, votou pela ruptura da aliança do PMDB com o governo e fez campanha pela eleição do tucano Aécio Neves à Presidência. A parceria deu certo e Picciani se tornou o fiel escudeiro de Cunha na Câmara, o que resultou em sucessivas derrotas ao governo. Mas, sete meses depois, a relação entre os correligionários começou a dar sinais de estremecimento. Com o apoio de Sergio Cabral e de Pezão, Picciani, o Jovem, aproximou-se do Planalto, até chegar à sua liderança na Câmara. Dois ministérios, o da Saúde o mais importante, passaram a ser dele. Eduardo Cunha vem de defenestrar o jovem Leonardo, que deixa de ser o líder do partido. Deixa de ser o líder da Presidente Dilma? Ao que tudo indica, sim. Mas isso depende dos acertos que se façam em Palácio, com Michel Temer, o escritor da carta de abandono. A que mãos será entregue o PMDB carioca, no fim o responsável exclusivo pela grande crise que abalou a República, a que estranhamente, os analistas políticos não quiseram tomar em conta? No Rio de Janeiro, lembre-se, o PT e Lula são tão somente apêndices do PMDB de Cabral e sua banda. Na Cidade Maravilhosa, quem é Temer? Possivelmente, aquele que Eduardo Cunha quer defenestrar.   Como, em pano de fundo, trabalham-se a possível prisão de Cunha e a destituição da presidenta, não foram tão escondidas as negociações mantidas entre os bandos componentes das duas bandas, a de lá e a de cá. Em determinado momento, as carícias presidenciais passaram às mãos de Picciani, o Jovem. Quais os patronos dessas aproximações e rejeições? Os coordenadores políticos da presidenta, o pouco hábil Mercadante, que claramente não suporta a figura de Michel Temer? Lula é aquele que, autor do roteiro da ópera bufa, ao pressentir uma apoteose final tendente ao dramático, escafedeu-se sem maiores cerimônias, partindo, para ir às touradas de Madri, para ver Peri beijar Ceci. Como já havia sido profetizado, a Rede Globo de Televisão transformou a política brasileira em sequência de capítulos de novela, de público certo e magnetizado pela trama. Alguém matará Odete Roitmann. Que são os bons moços e quem os bandidos? E todos nós, levamos a sério o que não é senão mais uma criação de algum dos noveleiros da Vênus Prateada. Maria Fernanda Arruda é escritora, midiativista e colunista do Correio do Brasil, sempre às sextas-feiras.
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