Rio de Janeiro, 22 de Dezembro de 2024

Corte do juiz Moro vaza depoimento de Delcídio, que cita Dilma e Lula

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Quinta, 03 de Março de 2016 às 10:30, por: CdB

A delação premiada de Delcídio do Amaral, afastado da Liderança do Governo no Senado — cargo ao qual ainda não renunciou —, segundo a reportagem, descreve “com extraordinária riqueza de detalhes” a suposta participação da presidenta Dilma Rousseff e do líder petista Luiz Inácio Lula da Silva

 
Por Redação - do Rio de Janeiro
A Justiça Federal do Paraná, sob a égide do juiz Sergio Moro, vazou mais um documento referente à Operação Lava Jato, da Polícia Federal (PF). Normalmente, era à revista semanal de ultradireita Veja mas, desta vez, selecionaram a revista semanal de centro IstoÉ para divulgar o depoimento do senador Delcídio do Amaral (PT-MS). A repórter Débora Bergamasco, que assina a matéria de capa da publicação semanal, correu para entregar o texto e permitir que a Editora Três liberasse a edição com um adiantamento de dois dias. Normalmente, chega aos assinantes no sábado, mas em face do ‘presente’ concedido pela fonte, no Judiciário, já está disponível com repercussão imediata nos blogs e nas rádios. O jornalista Ricardo Boechat, colunista de IstoÉ e apresentador de programas na Rede Bandeirantes fez o anúncio do vazamento, nas primeiras horas da manhã.
delcidio.jpgDelcídio tentava fazer uma delação premiada e seu depoimento foi vazado a uma revista semanal
Segundo a repórter Bergamasco, “pouco antes de deixar a prisão, no dia 19 de fevereiro, o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) fez um acordo de delação premiada com a força-tarefa da Lava Jato”. Após confirmar que a revista “teve acesso às revelações feitas pelo senador”, informa que o depoimento de Amaral forma um compêndio de “cerca de 400 páginas” e, na opinião da jornalista, trata-se do “mais explosivo relato até agora revelado sobre o maior esquema de corrupção no Brasil – e outros escândalos que abalaram a República, como o 'mensalão”. Exagera. A delação premiada de Delcídio do Amaral, afastado da Liderança do Governo no Senado — cargo ao qual ainda não renunciou —, segundo a reportagem, descreve “com extraordinária riqueza de detalhes” a suposta participação da presidenta Dilma Rousseff e do líder petista Luiz Inácio Lula da Silva na tentativa de esconder provas e dissimular a participação deles no esquema de propina descoberto na Petrobras. Bergamasco afirma que houve uma “ação decisiva da presidente Dilma Rousseff para manter na estatal os diretores comprometidos com o esquema do Petrolão (como a mídia conservadora batizou o escândalo da Petrobras) e demonstrou que, do Palácio do Planalto, a presidente usou seu poder para evitar a punição de corruptos e corruptores, nomeando para o Superior Tribunal de Justiça (STJ) um ministro que se comprometeu a votar pela soltura de empreiteiros já denunciados pela Lava Jato”. “O senador Delcídio também afirmou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinha pleno conhecimento do propinoduto instalado na Petrobras e agiu direta e pessoalmente para barrar as investigações - inclusive sendo o mandante do pagamento de dinheiro para tentar comprar o silêncio de testemunhas. O relato de Delcídio é devastador e complica de vez Dilma e Lula, pois trata-se de uma narrativa de quem não só testemunhou e esteve presente nas reuniões em que decisões nada republicanas foram tomadas, como participou ativamente de ilegalidades ali combinadas –a mando de Dilma e Lula, segundo ele”, segue o texto. A delação vazada à revista tende a ser mais uma peça a ser anexada ao processo sob análise do ministro Teori Zavascki, no Supremo Tribunal Federal (STF). Ele ainda não divulgou sua decisão quanto a aceitar, ou não, as confissões do senador, que pedia sigilo no seu depoimento por, no mínimo, seis meses. Após reveladas ao público, as façanhas dos grupos políticos envolvidos no escândalo quebram a exigência do parlamentar sul-matogrossense, egresso do PSDB. Diante da indiscrição cometida na Vara Federal paranaense, o acordo agora tende a ser confirmado por Zavascki, que não havia aceitado a exigência de Amaral e devolvido o processo à Procuradoria-Geral da República (PGR). O senador explicava, antes do vazamento das informações, que seis meses era tempo suficiente para ele contornar o processo de cassação no Conselho de Ética do Senado. “Agora, seus planos parecem comprometidos”, admite a repórter. Delcídio diz, na peça acusatória, que a presidenta Dilma tentou, por três vezes, “interferir na Lava Jato, com a ajuda do ex-ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo”, diz a repórter. “É indiscutível e inegável a movimentação sistemática do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo e da própria presidente Dilma Rousseff no sentido de promover a soltura de réus presos na operação”, supôs Amaral. O próprio senador teria participado da “terceira investida” contra a Lava Jato. Amaral diz que a presidenta “diante do fracasso das duas manobras anteriores, uma das quais a famosa reunião em Portugal com o presidente do STF, Ricardo Lewandowski”, o convidou para uma conversa. “Enquanto caminhavam pelos jardins do Alvorada”, diz a IstoÉ, Dilma teria solicitado a Amaral, na condição de líder do governo, que “conversasse como o desembargador Marcelo Navarro, a fim de que ele confirmasse o compromisso de soltura de Marcelo Odebrecht e Otávio Marques de Azevedo”, da Andrade Gutierrez. Amaral conta, então, que se reuniu com Navarro “no próprio Palácio do Planalto, no andar térreo, em uma pequena sala de espera”, o que, segundo o senador, pode ser atestado pelas câmeras de segurança. Na reunião, segundo o delator, Navarro “ratificou seu compromisso, alegando inclusive que o dr. Falcão (presidente do STJ, Francisco Falcão) já o havia alertado sobre o assunto”.  A reportagem do Correio do Brasil procurou a Presidência do STJ para confirmar as declarações do senador mas não obteve resposta, até o fechamento dessa matéria. A repórter de IstoÉ afirma que “o acerto foi cumprido à risca. Em recente julgamento dos habeas corpus impetrados no STJ, Navarro, na condição de relator, votou pela soltura dos dois executivos. O problema, para o governo, é que o relator foi voto vencido. No placar: 4x1 pela manutenção da prisão”. Delcídio do Amaral, no anexo 17 da delação premiada, porém, foi incisivo: “Dilma tinha pleno conhecimento de todo o processo de aquisição da refinaria”. “A aquisição foi feita com conhecimento de todos. Sem exceção”, acusa o senador. Não seria a primeira vez que o líder do Governo, no Senado, desmentiria Dilma na delação. No anexo 03, “o senador garante que ela teve participação efetiva na nomeação de Nestor Cerveró para a diretoria da BR Distribuidora, contrariando o que ela havia afirmado anteriormente”, acrescenta a revista. Aos procuradores, Delcídio afirma que “tem conhecimento desta ingerência (de Dilma), tendo em vista que, no dia da aprovação pelo Conselho, estava na Bahia e recebeu ligações de Dilma”. “Ex-diretor internacional da Petrobras, Cerveró foi preso em janeiro de 2015, acusado de receber propina em contratos da estatal com empreiteiras. Até então, a indicação de Cerveró era atribuída a Lula e José Eduardo Dutra, ex-presidente da BR Distribuidora, falecido no ano passado. Mas segundo Delcídio, a atuação de Dilma foi ‘decisiva’. A presidente ligou para ele duas vezes”, diz o texto.

Delcídio ataca Lula

Na delação, Amaral ataca Lula, ao afirmar que o ex-presidente teria sido “o mandante dos pagamentos à família Cerveró”. A declaração consta no anexo 02 da delação. Lula, diz o senador petista, “pediu ‘expressamente’ para que ele ajudasse o amigo e pecuarista José Carlos Bumlai, porque ele estaria implicado nas delações de Fernando Baiano e Nestor Cerveró. Bumlai, segundo o senador, gozava de ‘total intimidade’ e exercia o papel de ‘consigliere’ da família Lula – expressão usada pela máfia italiana e consagrada no filme O Poderoso Chefão para designar o conselheiro que detinha uma posição de liderança e representava o chefe em reuniões importantes”, tende a reportagem. A transcrição da delação pelos procuradores registra o depoimento de Amaral sobre Lula a Bumlai: “No caso, Delcídio intermediaria o pagamento de valores à família de Cerveró”. Em outro trecho da delação, Delcídio diz que “aceitou intermediar a operação”, mas lhe explicou que “com José Carlos Bumlai seria difícil falar, mas que conversaria com o filho, Maurício Bumlai, com quem mantinha boa relação”. De acordo com a reportagem, “o acerto foi sacramentado. Depois de receber a quantia de Maurício Bumlai, a primeira remessa de R$ 50 mil foi entregue em mãos pelo próprio Delcídio ao advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, também preso pela Lava Jato”. Na delação, Delcídio tenta envolver o ex-presidente em outra vertente da Operação Lava Jato, na qual Lula teria tentado comprar o “silêncio de testemunhas”. O senador afirma que Lula e o ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil, Antonio Palocci, em meados de 2006, “articularam o pagamento a Marcos Valério para que ele se calasse sobre o ‘mensalão’. O dinheiro, um total de R$ 220 milhões destinados a sanar uma dívida, segundo Delcídio, foi prometido por Paulo Okamotto. Aos procuradores, o senador relatou uma conversa com Lula em que ele o alerta: ‘Acabei de sair do gabinete daquele que o senhor enviou a Belo Horizonte (Okamotto). Corra, Presidente, senão as coisas ficarão piores do que já estão”. Nenhum desses fatos, porém, ainda foi comprovado. “Na sequência, Palocci ligou para Delcídio dizendo que o Lula estava ‘injuriado’ em razão do teor da conversa, mas que ele (Palocci), a partir daquele momento, ‘estaria assumindo a responsabilidade pelo pagamento da dívida’. Valério, de acordo com o senador petista, não recebeu a quantia integral pretendida. De todo o modo, diz o trecho da delação, ‘a história mostrou a contrapartida: Marcos Valério silenciou’. Ainda sobre o ‘mensalão’, Delcídio – ex-presidente da CPI dos Correios – disse ter testemunhado na madrugada do dia 5 de abril de 2006 as ‘tratativas ilícitas para retirada do relatório (final da CPI) dos nomes de Lula e do filho Fábio Luís Lula da Silva em um acordão com a oposição’. Assim, conforme o anexo 21 da delação, ‘Lula se salvou do impeachment”, conta a repórter. Ao ‘dar com a língua nos dentes’, no jargão policial, o senador Delcídio do Amaral também cita os senadores Gim Argello (PTB-DF) e Vital do Rego (PMDB-PB); além dos deputados Marco Maia (PT-RS) e Fernando Francischini (SD-PR). O parlamentar os acusa de cobrar “de empreiteiros para não serem convocados na CPI da Petrobras”. “Delcidio do Amaral sabe de ilicitudes envolvendo o desfecho da CPI que apurava os crimes no âmbito da Petrobras. A CPI obrigava Léo Pinheiro, Júlio Camargo e Ricardo Pessoa a jantarem todas as segundas-feiras em Brasília. O objetivo desses jantares era evitar que os empresários fossem convocados para depor na CPI. Os senadores Gim Argello, Vital do Rego e os deputados Marco Maia e Francischini cobravam pedágio para não convocar e evitar maiores investigações contra Léo Pinheiro, Júlio Camargo e Ricardo Pessoa”, conclui.
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