A revolução dos bananas

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Publicado Quarta, 08 de Abril de 2015 às 06:50, por: CdB

Desde a Revolução dos Cravos, em Portugal, em 1974, que pôs fim ao regime salazarista, a direita ficou invejando aquele nome. Afinal, antes os nomes eram nacionais, como a “Francesa”, políticos, como “Soviética”, datados, como “de 30”, ou ainda evocando partidos, como a “Farroupilha”, “Federalista”, etc. Rep/WebA “dos Cravos” foi a primeira, que eu conheça, decididamente metafórica, com os cravos vermelhos enfiados por moças nos canos dos fuzis dos soldados substituindo o sangue que jorraria nas ruas caso acontecessem os disparos. A direita ficou com uma inveja mortal. Depois, quando o mundo comunista começou a ruir na Europa, veio uma torrente de denominações que corriam atrás do prejuízo: pulularam as revoluções Laranja, Violeta, das Rosas, das Peras, Abacates, etc. Elas se referiam sempre a derrubadas (frequentemente mais do que merecidas) dos regimes comunistas no Leste europeu. Mas faziam parte de uma apropriação pela direita de tais movimentos. No Brasil agora temos uma intensa mobilização, por parte das direitas, de massas de inconformados com o resultado das eleições de outubro passado. São massas: afinal, 50 milhões de pessoas mais ou menos votaram no candidato derrotado. Quase ganharam. Mas acontece que não ganharam. E o processo foi legítimo. Então a saída é sair pro pau. Mas pau, no sentido antigo, não há mais. As Forças Armadas estão recolhidas a seu papel constitucional. Então o que resta é apelar para tornar o governo ingovernável. Destruir a aliança que o sustenta, bem ou mal. Aliás, muitas  vezes mais mal do que bem. A via judicial para depor o governo é problemática, apesar dos vazamentos do processo – que mais parece peneira – movido pelo juiz Moro e a operação Lava Jato, agora contrabalançada pela Zelotes e a HSBC, que expuseram as entranhas da sonegação fiscal pratica pela direita brasileira. Então o que resta é a barulheira das ruas, quem sabe seduzindo parte do PMDB a acompanhar o PSDB et caterva numa votação de impeachment. E lá se vão as multidões para as ruas, impulsionadas pela Rede Globo e outras mídias menores, como Estadão e Folha, e mais muita grana rolando nos bastidores das manifestações, garantindo carros de som, camisetas, o escambau, para fazer parecer que elas são “espontâneas”. Bom, uma coisa que a gente sabe é que a manifestação chamada pelas esquerdas no dia 13, que antecedeu a do dia 15, em São Paulo, assustou a direita. Veio muita gente, tanta que surpreendeu até os organizadores. Quando a frente da passeata chegava à Igreja da Consolação ainda havia gente saindo da frente do MASP na avenida Paulista. A partir daí a ordem foi clara: tornar a manifestação do dia 15 “a maior desde as diretas”. A PM cumpriu a ordem: milhões de gentes na avenida. Mais do que prometia a força humana e mais do que deu o DataFolha (210 mil) que depois, ao que parece, faria a autocrítica, obediente à ordem generalizada. Mas não há como ocultar: foi muita gente, de todo modo. E no dia 12 vai haver mais gente, talvez, embalada pela pregação de que a esquerda é a mãe da corrupção. Basta expulsar a esquerda do governo, manu militari, congressuali ou judiciali, que o problema da corrupção estará equacionado e resolvido. Vão dar com os burros n´água. Se tiverem sucesso, vai ser o caos. Se não tiverem, também vai ser. Porque o projeto deste pessoal que comanda estas manifestações é reduzir o país ao caos. É romper com a melhora da situação dos mais pobres, é romper com a política que valoriza o salário mínimo e os salários de um modo geral, é regredir ao tempo em que se compravam serviços a troco de banana.   Só que desta vez os bananas são eles. O país não vai regredir. Não adianta. As últimas décadas de fato mudaram o país. Se a direita ganhar agora – e duvido que ganhe – vai ser uma daquelas vitórias de Pirro. A “Revolução dos Bananas”.   Flávio Aguiar,  é correspondente internacional da Carta Maior em Berlim.

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